segunda-feira, 7 de julho de 2008

Roubo Impossível - parte 3 (desculpa gente, mas ainda não é a última)

Bom gente, depois de ter publicado um conto inteiro e extenso como o Xenofobia, eu estava querendo postar aqui denovo somente quando terminassa de escrever o conto do Tony. Eu andei escrevendo um pouco mais do que eu escrevi esses tempos atrás, ainda mais depois de ler a entrevista do Leonel Caldela, mas ainda não terminei o conto e decidi postar mais um fragmento antes de dar o desfecho da narrativa.
Pura frescura. Só para deixar aquele gostinho de ansiedade, e me dar um pouco mais de tempo também para repensar o climax.
Quero agradecer uma amiga minha, Indy, por estar sempre me cobrando a continuação deste conto. Se não fosse por ela acho que esse post aqui demoraria mais um mês para sair. Beijos querida.

Roubo Impossível - Parte 3

As luzes no interior da casa de Artur estavam todas apagadas quando ele chegou do trabalho, as três da matina. Estava cansado, mas o café levava seu sono embora, junto com seu hálito. Demorou-se, como de costume, à porta, pois a maldita chave insistia em emperrar no meio da segunda volta. Depois de alguns solavancos, acompanhando de palavrões sussurrados, a fechadura cedeu.


Mesmo com toda a barulheira feita pelo oficial, nenhuma luz se acendeu no interior da residência. “Tomara que ela esteja dormindo! Se eu pegá-la na rua até essa hora de novo, acho que lhe dou uma surra.” Pensou, preocupado. Sua filha, Marcela, de uns tempos para cá tinha deixado de ser o exemplo de boa moça, respeitadora, educada, quase uma santa, para começar a sair com um “moleque” que tinha mais brincos do que todo o porta jóias da menina. E isso deixava o policial enfurecido.


Artur foi até o quarto da filha, verificar se ela estava dormindo. Mantinha os punhos fechados, com força, e os dentes cerrados, pensando no pior. “Se ela não estiver na cama, eu vou arrancar-lhe o couro quando voltar para casa. Arranco também aqueles malditos piercings daquele punk de merda. Bem que minha filha podia sair com o Antônio.” Este último pensamento passou despercebido. O policial quase grunhiu quando tocou na maçaneta do quarto da menina, mas todos seus músculos relaxaram ao girá-la e abrir a porta, constatando que sua garotinha estava sã e salva, dormindo tranquilamente.


Apesar da mente de Artur lhe dizer o contrário, Marcela já não era tão garotinha assim. Seios firmes e a cintura fina atuam como ímãs para os olhares das pessoas, tanto os apetitosos dos homens, como os invejosos das outras mulheres. E a menina, conhecendo seus dotes melhor do que ninguém, e escolhia suas roupas de modo a provocar ainda mais. Decotes fundos e calças de cós baixo inundavam seu guarda-roupa. Mas ali, debaixo das cobertas, com seu pijama conservador, a imagem que o velho Artur tinha de sua filha permanecia imaculada.



Tony chegou em casa com a barriga roncando de fome. Os refrigerantes que havia tomado na delegacia foram as únicas coisas que seu estômago viram desde o almoço. Seu relógio apitou, informando que já era uma da manhã. Seu pai e sua mãe já estavam dormindo. “Dormindo há muito tempo.” Pensou o mágico, andando nas pontas dos pés até a cozinha. As panelas da janta estavam todas sobre o fogão. “Vou ter que comer isso aqui frio mesmo, se meu pai acorda uma hora dessas posso dizer adeus ao meu couro.”


Quarenta minutos depois o mágico já estava em seu quarto, com o estômago estufado, sentado na beira da cama. A gaveta de sua escrivaninha estava aberta e várias revistas especializadas em mágica abertas pelo tapete que cobria o todo o chão do quarto. Tony estava procurando todas as matérias sobre mágicos escapistas famosos do Brasil. O garoto estava procurando apenas por desencarno de consciência, pois as probabilidades de se encontrar algo que o ajudasse a desvendar esse roubo eram quase zero.


Como esperado, nenhuma publicação lhe serviu de grande ajuda, o máximo que ele achou de diferente foi um caso de um mágico que havia falhado em uma de suas apresentações e foi vergonhosamente humilhado pelo público. Alessandro Tied era o nome artístico do mágico. Tied é a palavra em inglês que significa “amarrado”. Parece que Alessandro não conseguiu se livrar das cordas e das algemas, e em sua tentativa de sair do caixote onde estava preso, revelou um compartimento secreto, por onde ele sairia dissimuladamente, revelando seu segredo aos espectadores, que, descontentes, vaiaram e escarneceram o pobre rapaz. Tal fato ocorrera há mais de vinte anos.


Esta notícia fez um arrepio escalar a coluna de Tony, que agradeceu aos céus por nunca ter errado no palco. Abandonando as revistas, frustrado, o rapaz deitou-se em sua cama. Retirou os sapatos e as meias usando os próprios pés e recostou-se no travesseiro. Fechou os olhos, rolou de um lado, rolou para o outro, mas não conseguiu dormir. A imagem do mágico errando seu truque não saiu de sua cabeça, e o nome Alessandro pulsava em seus pensamentos como um letreiro de motel em neon azul. Finalmente, depois de mais algumas voltas pelo colchão, conseguiu dormir.