domingo, 2 de novembro de 2008

Roubo Impossível - parte FINAL (isso mesmo gente, ACABOUUU)

Olá pessoal!
eu estava devendo isso aqui faz tempo ein!
Mas finalmente aqui estou, postando o final do Roubo Impossível.
É engraçado como são as coisas né. Eu pensei em toda a trama desta narrativa em cinco minutos, não só nela, como também em uma continuação.
Cinco minutos para criar, mêses para escrever. Uma lástima.
Como eu queria me dedicar mais a este blog e aos meus projetos literários. Por mim eu passava horas e horas só escrevendo. Poucas coisas eu gosto tanto de fazer quanto escrever.
Porém a faculdade toma grande parte do meu tempo, fora a mágica.
Por causa da facul e de outros rolos este conto demorou tanto para acabar. MAS, acabou. É até gostoso escrever isso aqui viu. ACABOU.
No começo eu adorava escrever sobre o Tony. Eu me identificava com ele. Porém, um novo projeto surgiu. Um ÉPICO.
Ainda não vou falar muita coisa sobre isso, mas eu quero que saibam que coisas diferentes vão começar a pintar por aqui. A fantasia está me chamando de volta, e este é um pedido que eu não posso, e nem quero, recusar.
Escrever um conto no mundo real foi divertido. Menos do que eu pensava, mas milhões de vezes mais construtivo do que eu sequer imaginei.
Acho que escrevi muita coisa interessante no Roubo Impossível, o que me serviu como uma grande lição.
Espero que todos tenham gostado. Chega de enrolação. Podem terminar de ler:


Algumas horas depois já era de manhã. Tony foi liberto de seu pesadelo, onde seu show havia se tornado um fiasco por ter errado uma de suas mágicas mais famosas, por sua mãe, que fora o acordar para tomar café.

-Vamos Antônio, acorde. Seu pai já está arrumando a mesa para o café. – Sua voz era calma e sem qualquer alarde, diferente dos gritos e vaias oníricas que atormentavam o sono do mágico.

-Tony mãe. Só Tony. – sua voz saiu ainda chiada e sussurrada, enquanto o rapaz se esticava todo na cama, tentando mandar o sono e a preguiça embora.

-Não gosta mais do nome que sua mãe te deu, rapazinho? – não havia mágoa no tom de voz da mulher, pelo contrário, sua pergunta foi irreverente, acompanhada por uma risadinha. Mas o mágico não respondeu, apenas resmungou. – Pois ande logo, escove os dentes e penteie este cabelo que está horrível. – disse enquanto terminava de arrumar o lençol na cama. Depois, sem mais nenhuma palavra, saiu.

Tony estava tirando a calça e camisa social, que usara o dia anterior todo, para se vestir mais confortavelmente. Minutos depois já havia escovado os dentes e se dirigia para a cozinha, onde seu pai e sua mãe já estavam sentados, tomando o café. A mesa estava bem arrumada, com pães, um jarro de leite e um outro um pouco maior de suco, um pote de manteiga aberto, com uma cratera funda na superfície de pasta amarela, devido à mania de seu pai em enfiar a faca lá no fundo.

-Chegou tarde ontem, não foi? – o tom áspero na voz de seu pai trouxe uma careta até a face de Tony. – Eu fui te perguntar como tinha sido a apresentação, mas seu quarto estava todo arrumado ainda. – “Um sinal de que com certeza você ainda não tinha chegado.” pensou o homem.

-A foi tudo ótimo! Conheci uma menina maravilhosa, mas ela não foi o motivo de eu ter chego tarde! – disse abruptamente o mágico ao ver os olhos de sua mãe arregalarem-se assustados. – Eu nem sai com ela depois do show. Mas não foi culpa minha! – Tony agora se explicava diante do olhar frustrado do pai. Essa antítese de opiniões que seus pais jogavam contra ele o deixava meio confuso, e para ajudar com a dor de cabeça o nome Alessandro ainda o atormentava.

Depois de dar um gole em seu suco, o mágico continuou.

-Depois do show eu tive que ir à delegacia de novo, mas não como acusado! – os dois agora, pai e mãe, estavam assustados. – Dessa vez o policial veio pedir minha ajuda.

-Ajuda? – seu pai perguntou, depois de dar uma mordida no pão e em seguida um gole no suco, misturando tudo na boca e engolindo. – Como assim, nem idade pra ser policial você tem.

-Sim, sim,- retorquiu o rapaz, não achando graça nenhuma no tom sarcástico do pai. – mas ele veio pedir minha ajuda como mágico. Ele queria ver se eu reconhecia o ladrão, ou o estilo dele, pelos vídeos gravados pelo sistema de segurança.

-E você reconheceu? – dessa vez fora sua mãe quem perguntou. Alguns farelos de bolacha voando de sua boca em meio ao medo e apreensão.

-Não. Era impossível. Ele usava um terno tradicional, que todo mundo usa, não só os mágicos. E fez uma mágica com uma carta de baralho que eu só conhecia nas histórias em quadrinhos. – alguns segundo de silêncio enquanto o rapaz tomava outro gole, a curiosidade estampada fortemente no semblante do casal. – Ele desmaiou um guarda tacando a carta nele.

Seu pai bufou algo inteligível, mais para si mesmo do que para o filho, enquanto sua mãe se benzia, fazendo o sinal da cruz.

Cerca de quarenta minutos depois o garoto estava entrando novamente na delegacia, porém desta vez estava sozinho. Tony decidiu ir até lá por conta própria. Perguntou ao balconista sobre Artur e aguardou em pé enquanto o rapaz do outro lado do balcão fazia uma ligação. O dia amanhecera absurdamente quente naquela manhã, e o mágico percebeu as duas manchas escuras no uniforme do moço, bem debaixo das axilas. Limpou o próprio suor da testa e virou-se para trás quando ouviu chamarem seu nome.

-Antônio! Você veio pra cá sem ter sido arrastado por mim? É, como as coisas mudam. – cumprimentou o policial num tom brincalhão que não combinava com ele, estendendo a mão direita.

-Pois é. Mas nem tudo que deveria mudar muda, não é? Quantas vezes tenho que te pedir para me chamar de Tony? – respondeu o mágico, com um sorriso acanhado no canto da boca, enquanto apertava a mão dura e grossa do policial.

-Desculpa, mas acho que nunca vou conseguir me lembrar disso. – Tony quase deu um passo para trás, estranhando o comportamento amigável que não existia em Artur dias antes. Ao invés disso contribuiu o sorriso do oficial. – Vamos até minha mesa, lá podemos conversar melhor.

-Claro.

Artur era um dos poucos policiais que tinha uma sala só para ele na delegacia. Uma sala bem modesta, diga-se de passagem. Um pouco maior que um quarto, seu espaço era ocupado por uma mesa de madeira bem no centro, uma mesa menor de mármore no canto, cheia de pastas em cima, um pequeno frigobar no outro canto, uma estante que tomava uma das paredes inteiras e vários papéis espalhados por todo lugar. Em cima da mesa central estavam os documentos reunidos no caso do mágico que estava roubando bancos.

-Vamos, sente-se ai. – Artur apontou uma das cadeiras almofadas que ficavam na frente de sua mesa, enquanto dava a volta no móvel para acomodar-se na sua poltrona. – E me diga por que é que veio aqui me visitar. Tenho que confessar que estou morrendo de curiosidade.

-Na verdade nem eu mesmo sei. É sério! – completou rapidamente quando viu a expressão de descrença do policial. – Eu peguei o carro do meu pai e comecei a andar sem rumo, com a cabeça viajando por assuntos diversos. Quando parei, estava aqui na frente, então decidi vir dar um olá.

-Sei, sei. Você acha que pode enganar um policial velho que nem eu? – perguntou o oficial com um sorriso largo que mostrava seus dentes amarelos. – Eu consigo enxergar seu desconforto através dessa sua calma fingida. Vamos lá garoto, não é hora para se sentir vergonha. Não nesta altura do campeonato. Desembucha logo e fala qual é o problema.

-Certo, certo. Acho que não tem como mentir pra você mesmo. – admitiu o mágico com um sorriso tímido, que não era muito comum de sua parte. – Realmente tem algo me incomodando, mas acho muito difícil ter alguma ligação com esse mágico ladrão de Bancos.

-Bom, eu não sou nenhum psicólogo, mas diga lá, alguma ajuda eu posso te dar, dependendo do caso.

-Obrigado, mas acho difícil. Ontem a noite eu li uma matéria de um mágico que fazia truques de “escapismo” que errou um dos truques no meio de uma apresentação e ficou arruinado depois disso. Parou de fazer mágica e sumiu. Irônico, não?

Artur concordou com um grunhido.

-E agora você está com medo de errar também?

-Acho que sim. Cheguei até a sonhar com isso essa noite. E o nome do bendito mágico não sai da minha cabeça até agora.

-E como ele se chama?

-Alessandro.

-Alessandro do que? – o policial agora tinha o mesmo olhar fanático da tarde anterior, como se o nome do mágico tivesse levado embora sua felicidade e trazido de volta a paranóia dos policiais dos filmes americanos. E foi exatamente o que aconteceu.

-Não me lembro. Na matéria não falava o sobrenome dele. Só o nome artístico mesmo. Por quê?

-Antônio, se meu palpite estiver certo, e eu tenho quase certeza que está, essa sua informação pode ter solucionado o caso! – os olhos do policial brilhavam com entusiasmo.

-Qual informação? Eu não disse nada. E me chame de Tony, certo?

-Eu vou te mostrar! – respondeu o oficial, ignorando o pedido do mágico para ser chamado pelo apelido. – Alessandro Pertinel é o engenheiro responsável pela segurança de todos os bancos que foram roubados até agora. Este fato fez com que ele se tornasse nosso primeiro suspeito, mas em todos os casos ele tinha um álibi.

-Mas então como é que foi ele, se ele tinha álibi?

-Antônio, Antônio. A coisa mais fácil do mundo hoje em dia é conseguir esse tipo de coisas. E só ter grana. O que não falta pra quem acabou de roubar um Banco, não é? – Artur tinha se levantado para pegar os papéis sobre o caso, e os folheava com rapidez, como um morto de fome sobre um prato de comida. Tony ia corrigi-lo de novo, mas desistiu. – Achei! – exclamou o policial estendendo uma das folhas para o garoto.

-O que é isso? – perguntou o mágico, mais para si mesmo do que para Artur. Era a ficha do engenheiro, com endereço completo, todos os dados pessoais e uma foto. Quando os olhos de Tony encontraram a foto seu estomago pareceu se congelar por um segundo. Os traços do rosto estavam mais velhos, havia um pouco menos de cabelo, mas sem dúvida alguma, era o mesmo Alessandro das páginas da revista de mágica.

O policial pareceu ter percebido a surpresa do mágico, pois perguntou se estava tudo bem, e se ele reconhecia o rapaz da foto.

-Reconheço sim. Foi por causa dele que tive o pior pesadelo da minha vida ontem de noite.

****

A viatura voava baixo nas ruas da cidade. Artur também dirigia com o fanatismo e ousadia de Hollywood, o que fez Tony arrepender-se de não ter ido com o carro de seu pai.

-Você não tinha que ter um mandato para ir lá prender o cara? – perguntou o mágico com o pouco de ar que ainda lhe restava. Suas mãos agarradas ferozmente ao banco.

-Você se preocupa demais com detalhes, Antônio. Agora que solucionamos o caso, nada nem ninguém vai me impedir de prender esse sem vergonha.

-Mas a gente nem sabe ainda se ele é realmente o ladrão! – o mágico estava à beira do desespero, tentando não olhar para a rua e para os carros que, por poucos centímetros, não colidiam com a viatura.

-Eu sei.

****

Alessandro jogou-se no sofá da sala, enquanto pegava o controlo remoto da televisão. Seus pés, braços e pernas estavam doendo, afinal, passara a manhã inteira lavando seu carro importado novo. Comprou o carro a prazo, não porque não tinha dinheiro, afinal depois de roubar alguns Bancos o nosso próprio cofre fica meio recheado. “Gastar mais de duzentos mil reais a vista depois de assaltos à Bancos é pedir para ser preso” pensou consigo mesmo, afundado em seu ego.

Seu coração se acelerou com o susto que levou quando seu celular começou a vibrar em cima da mesa, zunindo alto como uma cigarra. Ele tinha feito tudo certo para não ser rastreado, mas a paranóia ainda assim martelava sua cabeça com a força de um trovão. O cristal do aparelho brilhava como a sirene da policia, com a palavra “Amor” aparecendo e sumindo conforme as luzes acendiam e apagavam. Passado o susto o rapaz alcançou o telefone, com um sorriso já nos lábios, e atendeu;

-Olá minha querida! Tudo bom com você? Que bom. Comigo também está tudo ótimo. Estou com saudades também meu amor. Sim, sim. Está lá na garagem, limpinho, só esperando você vir pegar. Mas é claro...

Alessandro não terminou a frase. Uma freada brusca seguida de um breve cantar de pneus fez seu batimento cardíaco acelerar mais uma vez. Uma gota de suor brotou em sua testa e escorreu até seu olho. A mulher do outro lado da linha perguntava se estava tudo bem, enquanto ele foi até a janela ver o que era. De repente todo o ar de seus pulmões pareceu se extinguir, como se tivesse levado um soco na boca do estômago. Um carro da policia tinha acabo de para na frente do portão de sua casa e o mesmo oficial que tinha lhe interrogado algumas semanas atrás desceu do veículo, arma em punho e cara de pouquíssimos amigos.

O desespero fez seus músculos tremerem, derrubando até o telefone no chão, com a mulher do outro lado da linha perguntando aos berros o que estava acontecendo. Mas Alessandro não ouvia mais uma palavra. Seu coração batia forte nos seus ouvidos e na garganta. As pontas de seus dedos formigavam. A paranóia fazia o rapaz suar por todos os poros, enquanto inundava sua mente com as mais absurdas teorias. É engraçado como uma mente acuada e desesperada se esquece das restrições da realidade.

O ex-mágico correu até a escrivaninha da sala de visitas, abriu a última gaveta meio desajeitado por causa da pressa. Revirou os panos de prato e alcançou sua arma 9mm. Seu peito arfava e a cabeça latejava. Aquilo não podia estar acontecendo. Ele não podia ter sido descoberto, porém, a determinação na face do policial fizera desmoronar toda a lógica do seu plano. O oficial sabia da verdade. E Alessandro não queria ser preso. E não seria. Se não por bem, então por mal.

Respirou fundo e foi até a janela com a arma em punhos.

****

Artur desceu do carro já segurando seu “três oitão” na mão direita, não porque ele achava que precisaria da arma, mas justamente para não ter que usa-la. Como se empunhá-la deixaria seu alvo com medo, logo, ele não reagiria. Exatamente o contrario do que aconteceu.

O estrondo do tiro que veio de dentro da casa acelerou os corações do mágico do e do policial. Nenhum dos dois foi atingido e o tilintar que o projétil emitiu junto a grade do portão atrás de Artur deixou bem claro quem estava na mira do atirador.

-Abaixe-se Antônio! – gritou o oficial para o mágico, em vão, uma vez que o garoto já estava agachado, escondido atrás de um vazo grande com uma flor exótica que enfeitava o quintal do engenheiro. – Você ainda acha que ele é inocente, Antônio? O maldito atirou na gente. – Artur se protegia atrás do carro de Alessandro, um importado zero quilômetro.

-Isso lá é pergunta que se faça uma hora dessas? A verdade agora está clara, obviamente, mas você poderia, por favor, dar um jeito nisso! Eu não saí de casa hoje para levar um tiro de um doido ladrão de bancos.

O pavor estava estampado nas palavras de Tony. Afinal o garoto tinha bons motivos para estar apavorado. Até mesmo Artur, que foi policial a vida toda e presenciara cenas assim mais de cem vezes, ainda sentia a boca do estômago fria e o suor brotando de todos os poros do corpo. Mas em momentos críticos como este o policial aprendeu que manter a calma é essencial. Então respirou fundo. Sentiu os músculos, que estavam rígidos de medo, relaxarem um pouco.

-Antônio, fique calmo. Não saia daí de trás que nada de ruim vai te acontecer. Pegue seu celular e ligue para a policia. Eles sabem que você saiu comigo, se você pedir reforços para cá eles vão mandar.

-Tudo bem! – Tony ainda estava nervoso. Pegou seu celular tremendo, mas conseguiu discar os três dígitos sem nenhum problema. Em menos de dois minutos já tinha chamado o reforço. –Pronto Artur, eles vão mandar dois camburões pra cá!

Mas Artur não respondeu. O mágico começou a suar frio. O que diabos teria acontecido com o policial. Tony não lembrava de ter ouvido mais tiros, portanto morto ele não estava.

-Artur! Você está me ouvindo?

Nenhuma resposta novamente.

****

-Merda, errei! – Alessandro se escondeu de costas para a parede ao lado da janela depois de ter atirado. Estava nervoso, suando frio, tremendo apavorado, pensando na cadeia, na gororoba que é servida para comer lá dentro, nos criminosos que estariam presos junto com ele. Além da prisão a morte também o assombrava. Numa troca de tiros com o policial e seu parceiro, levar um tiro no meio da testa e puff, tudo termina em um segundo, um plano perfeito que demorou anos para se concretizar apagando-se num piscar de olhos como se apaga uma luz pelo interruptor.

Afastou os pensamentos da cabeça abanando-a com força de um lado para outro. Não seria preso, nem morto. Ouviu os policias conversando aos berros um com o outro. Estavam encoberto agora, com medo de novos disparos. Essa era a oportunidade perfeita para sair pelos fundos, entrar na casa do vizinho, roubar seu carro e ir até a casa de sua namorada. Agora que ele parara para pensar nela deduziu que a coitada devia estar apavorada. Tinha que falar com ela.

Arqueou um pouco as costas e foi correndo em direção a cozinha, onde havia uma porta que dava para a área do fundo. De lá poderia pular o muro caindo direto na casa do vizinho e tudo estaria a salvo. Não olhou para trás em nenhum momento, e alcançara a cozinha sem nenhum problema. A porta dos fundos estava aberta, e na frente dela dava para ver o último obstáculo que o separava da liberdade.

Sua casa era enorme. Enorme também era a mureta que separava sua residência da outra ao lado. Porém a sorte parecia estar ao seu lado, pois havia uma mesa de plástico, daquelas de beira de piscina, encostada na mureta. Se ele fosse correndo, pulasse na mesa e da mesa ele pulasse no muro, conseguiria alcançar o topo. Endireitando sua coluna agora ele correu com toda a velocidade que conseguiu reunir em suas pernas. Porém nem na mesa ele conseguiu chegar.

****

Depois de ter pedido para Tony chamar reforços, Artur saiu de trás do carro, correndo em direção a um pequeno corredor na lateral da casa, entre o muro e a parede da garagem. O caminho que levava para os fundos do terreno era bem estreito e o chão estava bem irregular, o que dificultou um pouco a travessia. Porém o policial corria cada vez mais rápido.

Artur tinha certeza de que Alessandro tentaria escapar. O engenheiro não arriscaria trocar tiros com a policia, e o fato da casa não estar cercada por viaturas era um convite irrecusável à fuga. “Sem falar que ele era um mágico escapista” pensou o policial, achando graça da lembrança inconveniente. Então, se o ex-mágico estava tentando fugir, a única opção óbvia seria os fundos da casa.

O corredor chegara ao fim, transformando o apertado espaço de concreto numa ampla área de lazer, com churrasqueira, mesas de plástico, um piscina de fibra de vidro mais ao canto e a porta que dava acesso a casa. “Ou acesso a liberdade.” Relembrou o oficial, imaginando que Alessandro viria tentar escapar por aqui. No mesmo instante ouviu passos vindo de dentro do recinto. Mais uma vez seus instintos funcionaram perfeitamente. Inverteu a arma na mão, segurando-a pelo cano, e esperou.

Menos de cinco segundos depois Alessandro saia pela porta, apressado, com os olhos fixos no caminho que estava percorrendo, quando Artur martelou a coronha de sua arma na nuca do rapaz. O engenheiro soltou um gemido breve e agonizante, enquanto suas pernas falhavam e ele despencava penosamente ao chão. O oficial chutou para longe a nove milímetros que caiu das mãos do ladrão de bancos, que se contorcia como uma minhoca bêbada.

-Alessandro, Alessandro. Por que fazer as coisas do jeito mais complicado? – perguntou Artur mais para si mesmo do que para o rapaz, uma vez que o mesmo talvez nem ouvindo estivesse. – Eu não queria te machucar, homem. Você não me deixou escolha.

Enquanto isso o oficial retirava suas algemas do cinto, agachando até os pulsos do ex-mágicos.

-Acho que tonto desse jeito você não consegue escapar das minhas algemas. Sem falar que você não deve fazer isso há tanto tempo que nem se lembra mais como é. – disse enquanto soltava uma modesta risada com o canto do lábio.

Depois de algemar o preso Artur segurou-o pelas axilas e o ergueu até ficar em pé. Alessandro cambaleou novamente, ameaçando se estatelar com a cara no piso de sua varanda mais uma vez. Porém os braços fortes e treinados do policial não deixaram, e Artur o conduziu até a porta da frente, passando por dentro da casa. Enquanto andava pelos cômodos, o oficial deu uma boa olhada na mobília, na decoração, e ficou impressionado como alguém com tamanho poder aquisitivo se tornava um ladrão de bancos. Mas tão rápido como este pensamento lhe surgiu ele também foi embora.

-Tony, pode sair daí de trás! Já está tudo terminado! – gritou o policial quando saiu da casa, empurrando em sua frente o rapaz semi-consciente.

-Eu não acredito! – o mágico apareceu do lado do vaso onde estava se escondendo com um largo sorriso estampado na cara. – Você me chamou de Tony. O mundo está mesmo acabando.

-Achei que ia me elogiar por ter prendido este sem vergonha aqui sem ter que atirar nem ameaçar ninguém. – Artur ria abertamente, gargalhando entre as palavras.

-Ah, isso foi fantástico também, mas nada comparado ao fato histórico de ter dito meu nome corretamente. – o garoto também ria, esquecendo rapidamente o susto e o medo que passara minutos atrás.

-Eu duvido que na sua Identidade esteja escrito ‘Tony’. Mas, acho que por hoje não haverá problemas te dar este gostinho. Mudando de assunto, você fez o que eu te pedi.

-Claro, claro. A moça que atendeu o telefone disse que já estaria mandando reforços pra cá.

-Ótimo. Estou precisando tomar um gole de café, urgente.

****

Poucos minutos depois mais dois camburões chegaram ao local. Alessandro já tinha recuperado um pouco da sanidade. Tentou argumentar que os policiais não podiam fazer aquilo, que não tinham provas, porém, ter atirado contra Artur já era motivo mais que suficiente para leva-lo para o xadrez. Um dos oficiais que chegaram depois conduziu o preso até sua viatura e levou-o embora.

-Tudo bem quando acaba bem. – Disse Tony em tom descontraído.

-É garoto, no fim das contas você desvendou o caso sem revelar nenhum segredo. Ótimo trabalho. – Artur mantinha o meio sorriso no canto da boca, mas o seu costumeiro ar de seriedade o envolvia. Estendeu a mão direito ao rapaz.

-Desvendei nada não. Você que encarnou os policiais dos cinemas e fez tudo sozinho no fim das contas. Deduziu corretamente quem era o ladrão. Invadiu a casa dele e o prendeu tão rápido que pareceu até mágica. – respondeu o mágico enquanto retribuía o aperto de mão.

-Vamos garoto, você já deve estar com fome. Vamos almoçar em casa, quero te apresentar minha filha.

-Opa, demorou.