domingo, 11 de julho de 2010

Post atrasado, mas com novidade!

Hello there!
Ai ai, como é bom estar de volta à minha casa. Amo esse blog, mesmo ele quase não sendo visitado nem comentado.
Falando nisso, quero agradecer a Raaid... minha unica amiga no Skoob que conversa comigo, e que veio dar uma passeio aqui. (Só esqueceu de deixar um comentário pra mim né Raaid?? po hehe)
Dessa vez não vim postar mais um capítulo do meu ex-livro... na verdade, acho que vou parar de publicá-lo aqui... afinal, desde que eu comecei a postá-lo, meus comentários caíram até se extinguirem.
Agora começarei a postar textos menores, com começo-meio-fim de uma vez. Chega de enrolação.
O conto de hoje também não é muito novo, deve ter um pouco mais de um ano, mas que eu gosto bastante (e o João Paulo Moreou De Bode também) porque ele foi campeão de um concurso cultural de uma revista digital Nível Épico (abração Tiago Lobo!), que me rendeu um exemplar do livro Vampiro: o Réquiem, da editora Devir.
Com toda essa chuva estrondosa de livros contando histórias de vampiros, na maioria das vezes que não se parecem em NADA com a lenda dos vampiros, esse meu texto carrega consigo essa essência verdadeira, com as criaturas da noite sendo aquilo que elas realmente são.
Vou postar a obra na íntegra, porque ela é bem curtinha.
Espero que gostem, e não se esqueçam de me deixar comentários!!!!!!
Beijos

Daniel Lunas

Um réquiem a dois

Em quase cem anos vivendo, ou não-vivendo, como um vampiro, Bruce McArtus nunca se deu ao trabalho de esperar sentado na cama de sua presa enquanto ela tomava banho. Aquela era a primeira vez. Se bem que a bela moça que cantava “Join Me in Death” (Junte-se a mim na Morte), da banda finlandesa HIM, não seria apenas o alimento do vampiro esta noite.

“Que música mais irônica de se cantar hoje, minha querida!” pensou o rapaz, que de rapaz não tinha nada. Bruce fora Abraçado por um Deva, o clã de vampiros conhecidos por suas poderosas artes de sedução, há noventa e nove anos e onze meses. Naquela noite, quando estaria prestes a completar cem anos de imortalidade, McArtus iria transformar Alice em uma vampira. Em uma Deva, assim como ele.

Tomar este tipo de decisão, na cidade onde Bruce mora, não é algo simples, ainda mais para um membro dos Invictus, coalizão que preza a ordem e a lei seguidas à risca. Obter autorização para gerar um novo morto-vivo é algo que só se consegue com anos de bajulações e agrados aos anciões certos. Mas Bruce sempre ansiou por poder e, nos últimos anos, ele havia se tornado um desses vampiros a quem os mais novos procuram para conseguir ajuda. Bruce McArtus é o Priscus dos Súcubus, ou seja, a maior autoridade Deva da região.

O cargo pertencia a seu mestre, Philip McArtus, mas o ancião foi desafiado para uma Monomaquia, duelo formal para ser decidido um assunto no qual não é possível um acordo formal, por sua cria. Foi desafiado e vencido. Em poucos minutos, Bruce fez o antigo Priscus, que era mais velho e, supostamente, mais poderoso desistir do cargo. Nenhum dos dois perdeu uma gota de Vitae sequer. A luta foi decidida pela majestosa força de vontade de ambos os imortais.

A coalizão Invictus dificilmente contribui para que vampiros novos como Bruce ascendam no poder, o qual, na grande maioria das vezes, fica somente com os anciões. Porém, nas raras vezes que outro imortal mais novo tem a capacidade e a coragem de desafiar seus superiores, as rédeas da influência trocam de mãos, ou presas, se assim preferirem. E Bruce as tomou para si.

Somando-se isso ao seu aniversário de cem anos como Súcubu, nome feminino de um demônio da sedução, mas que é usado como apelido para os membros do clã Deva de ambos os sexos, Bruce McArtus decidiu gerar sua primeira, e talvez única cria. Conseguir permissão para seus superiores não foi difícil. Um neófito que progride no Invictus com tamanha velocidade com certeza merece respeito. Um pouco, pelo menos.

Foi aí então que Alice apareceu na não-vida dele. Em uma noite normal como todas as outras, Bruce caminhava pelas ruas indo até sua casa noturna favorita, que por uma incrível coincidência ele próprio era o dono, quando passou na frente do Fórum. Lá ele viu entrando a bela moça, com um pequeno terno preto e uma saia, de mesma cor, que chegava até os joelhos. Usava uma sandália de salto agulha. Andava graciosamente. Tinha o cabelo preso, num penteado conservador, que deixava o magnífico pescoço à mostra. Bruce respirou fundo, sentindo o perfume da dama. Era, como todo o conjunto, maravilhoso. O imortal desviou-se de seu caminho habitual e seguiu a mulher.

Naquela noite, a qual McArtus julgava ser normal, ele descobriu que a moça que lhe chamou a atenção era, além de esteticamente perfeita, muito inteligente. Alice era advogada e estava defendendo um rapaz acusado de assassinato, sendo o veredicto final inocente. A advogada tinha muita segurança no seu tom de voz. Segurança e persuasão, duas qualidades que Bruce idolatrava. Nem nos altos anciões de sua coalizão McArtus percebia tamanho poder e sedução no tom de voz. Naquela noite, Bruce escolheu sua cria.

Quando a audiência acabou o vampiro se levantou batendo palmas e olhando fixamente para a advogada que lhe chamara tanta atenção. Não havia quase ninguém assistindo a audiência, apenas uns três membros da família do morto e mais uns quatro da do assassino inocentado. Logo, os aplausos chamaram a atenção de todos, incluindo Alice. Mas as palmas nem se comparavam com a atenção que a própria presença do vampiro chamava. Bruce era, no mínimo, muito bonito. Cabelos curtos penteados graciosamente para trás. Queixo largo e barba por fazer. Grandes olhos azuis penetrantes e fundos como uma piscina. E uma aura de confiança parecia emanar do morto-vivo. Seduzir Alice foi fácil.

Ainda naquela noite, era impressionante o que os poderes vampíricos são capazes de fazer, Bruce conseguiu convencer a advogada a jantar com ele para comemorarem o trabalho bem sucedido da moça. Conseguir o telefone e um caloroso beijo de “te vejo amanhã então” foi ainda mais fácil. Caloroso para os mortais. Para ele soava como rotina. Todas suas presas faziam o mesmo. Mas isso não o desanimou. Sabia que era irresistível, não havia nada que pudesse fazer quanto a isso.

Na noite seguinte levou sua companheira para a própria casa noturna, sem que ela soubesse que estava com o dono do estabelecimento. Bruce havia feito desses encontros seu passatempo. Porém, já vinha dançando a Danse Macabre sozinho há muito tempo. A valsa infinita da imortalidade lhe exigia uma parceira, e, aos poucos, Bruce ia ensinando Alice a bailar seguindo seus passos macabros e depravados. McArtus saciou os desejos sexuais da mortal naquela noite. Ainda tinha uma esperança de reavivar estes sentimentos em si próprio, mas, mais uma vez, não obteve nenhum êxito.

Bruce só não transformou a advogada em vampiro naquela noite porque ainda achava que tinha que preparar a mente dela com um pouco das informações sobrenaturais que a transformação traria a tona. Convidou-a então para um jantar mais formal, no melhor, maior e mais caro restaurante da cidade. Como era de se esperar, Alice mal coube dentro de si, tamanha era a excitação e o lisonjeio. “Apaixonada” pensou Bruce, “Melhor que seja assim. Um coração cego de amor obstrui também as razões da mente.”

McArtus foi buscar sua convidada em casa. Estava dirigindo sua BMW C2 preta, um daqueles modelos sports que as portas abrem para cima . Estacionou na frente da casa da advogada, em um daqueles residenciais dos bairros conservadores da cidade, onde todas as casas são iguais, só mudam os enfeites dos jardins e as cores das paredes. Desceu do carro e tocou a campainha. “Já vou!” veio a voz de dentro da casa. E então a porta se abriu. O coração de Bruce iria acelerar se ainda batesse. Nem em mais de cem anos de existência, tanto mortal como imortal, o vampiro havia visto uma mulher tão bela. Alice já era perfeita aos olhos de McArtus, mas naquela noite ela era, com toda certeza, uma Súcubu. Usava um longo vestido preto, que se não fosse pelo sapato de salto alto, também preto, arrastaria no chão. O vestido tinha pequenos detalhes bordados em vermelho perto do decote e da cintura. Era frente única, deixando as costas de Alice descobertas. E seu pescoço também. Uma maquiagem, bem sutil, acentuava os belos traços de seu rosto. Estava magnífica.

-Boa noite. – cumprimentou Bruce, a beijando.

-Ótima noite! – respondeu a advogada, depois do beijo. McArtus abriu a porta para ela. O veículo parecia um morcego gigante, cromado. -Adorei o seu carro. – disse, sorridente, enquanto o rapaz sentava atrás do volante e ligava a ignição.

-O adoro também. Me sinto como se fosse o Batman quando ando nisso. – risos.

-É uma honra para mim então, sair com Bruce Wayne. – tornou a moça, beijando a face pálida e fria do morto-vivo. Ambos gargalhavam.

Tudo ocorrera às mil maravilhas no jantar. Bruce bombardeava Alice com tantas perguntas que a moça nem percebeu que seu companheiro não comia nem bebia nada. Naquela noite todas as respostas que McArtus precisava foram cedidas. Se Alice ainda era muito ligada a sua família. Se ela participava de algum clube ou movimento social na parte da manhã ou de tarde. O que ela faria se fosse imortal. Bruce ficou satisfeitíssimo, percebendo que todas as respostas eram a seu favor.

O casal ficou aproximadamente uma hora no restaurante, conversando. Alice quase não comeu nada, mas tomou umas taças de vinho a mais. Se o Deva quisesse poderia conseguir qualquer resposta sem usar sues poderes vampíricos. Mas não era mais necessário. Bruce pagou a conta, e foi levando sua acompanhante até o carro. Passou seu braço esquerdo pelas costas de Alice, segurando-a pela cintura. Conversavam quase encostando os narizes um no outro.

Quando se aproximaram da BMW, o vampiro sentiu Alice apertar-se contra seu peito. Um rapaz, vestindo trapos e uma touca, que mais parecia um gato atropelado, saiu de trás de uma cabine telefônica, segurando uma arma. Bruce podia sentir o coração da advogada batendo em seu peito, lembrando por um momento como era essa sensação.

-Eu só vou querer a bolsa da madame e a sua carteira! Não dificultem as coisas para ninguém. Não saí de casa querendo virar um assassino. – o ladrão parecia ter comido lixo em avançado estado de decomposição, julgando pelas condições de seus dentes e hálito.

-Um assassino não se difere muito de um ladrão. Ambos roubam. Um objetos, o outro vidas. – Bruce manteve o tom calmo na voz. Se estivesse sozinho, o pobre ladrão já estaria estirado no chão, separado de sua cabeça. Mas Alice não podia ver esta cena. Não agora. Então McArtus se limitou a manipular a mente do infeliz que tentava assaltá-lo. – Aqui, pegue este dinheiro. – Bruce retirou duas notas de cinqüenta da carteira. – Pegue este dinheiro e faça o que quiser com ele. Se aceita uma sugestão, o bar da esquina ali da frente é ótimo. – Disse apontando para um bar/restaurante.

Alice já estava surpresa pelo fato de estar sendo assaltada numa noite perfeita como aquela. Mas seu assombro foi ainda maior quando percebeu que o ladrão realmente fez o que Bruce lhe dissera. Agradeceu o dinheiro, pediu desculpas, guardou a arma e foi caminhando normalmente para o local indicado.

-Estou começando e me perguntar se você não é mesmo o Batman.

-Não querida. Infelizmente não. – Riu o morto-vivo, enquanto entravam no Batmóvel, ou melhor, BMW.

E agora Bruce estava sentado na cama de Alice, enquanto ela terminava de tomar banho. O tilintar do registro fez o vampiro despertar de suas recordações. A água parou de cair e o box se abriu. A garota ainda cantarolava a mesma música enquanto se secava, dentro do banheiro.

Bruce sentiu os cabelos da nuca arrepiarem-se, o que não acontecia há muito tempo, quando a porta do banheiro se abriu liberando uma grande massa de vapor e a advogada saiu enrolada na toalha. A moça exalava um cheiro forte de sabão e excitação. Bruce se endireitou na cama.

Alice parou, em pé na frente do rapaz, e despiu-se completamente. Bruce quase amaldiçoou-se por não possuir mais os sentimentos humanos, mas os “prós” compensavam. Começou a desabotoar a camisa, enquanto a advogada retirava-lhe os sapatos. “Malditas roupas! Por que eu já não as tinha tirado?” pensou por um instante, mas no segundo seguinte já estava nu. Ambos abraçavam-se e beijavam-se, deitados na cama, como um único ser. Alice estava extasiada.

-“Won’t you die tonight for love?” (Você não morreria esta noite por amor?) – o morto-vivo cantou ao pé do ouvido de Alice, o refrão de música que ela cantara enquanto tomava banho.

-Se fosse contigo, eu morreria. – a garota respondeu, em meio a gemidos discretos e a respiração ofegante.

-Pois não se preocupe minha querida. Para o amor, não há morte. – as presas de Bruce cresceram, sem alterar a beleza de sua fisionomia. O vampiro as enterrou no longo pescoço de Alice. A garota agradeceu por estar deitada, pois todos os músculos de seu corpo começaram a tremer, em resposta a torrente de prazer que Bruce injetava em seu corpo, sem perceber, que na verdade, ele sugava. Sugava sua vida, através da sua artéria. Mas, por Deus, aquilo era a melhor coisa do mundo.

O orgasmo, comparado com aquilo que McArtus estava fazendo, seja lá o que ele estivesse fazendo, não passava de um simples grão de areia perto da imensidão da Terra. Coração acelerado. Pulmões a todo vapor. Excitação infinita. Porém, tudo começou a acabar. Os batimentos cardíacos foram ficando preguiçosos e lentos. O pulmão não puxava mais ar suficiente. Mas a excitação continuou. Mas o medo juntou-se a ela. E depois o desespero.

A visão de Alice começou a nublar e escurecer. Percebeu que estava morrendo, mas isso também a excitava. Não havia nada em Bruce que não excitava. E em meio a este caleidoscópio de emoções, o mundo acabou. A vida acabou. E uma gota de não-vida pingou em sua língua. O gosto férreo e o cheiro forte revelavam que era sangue. A não-vida só depende do sangue, nada mais. E a gota se transformou um oceano. Uma imensidão de vitae invadiu os órgãos mortos de Alice e sua visão voltou, vermelha como o liquido que a preenchia.

O pulso de Bruce estava em sua boca, cortado, despejando para dentro dela a imortalidade. E então ele puxou o braço, desvencilhando-se de sua cria. Um círculo vermelho emoldurava os lábios da vampira. Bruce os beijou. Alice percebeu que estava viva, mas ao mesmo tempo não estava. Sentia-se vazia, como se estivesse tetraplégica, mas ainda podia se mover normalmente. A visão voltou à coloração normal, mas a sede não foi embora. Nunca iria.

-Bem vinda, Alice McArtus, à Danse Macabre. Está com sede, não está? Venha, vou te ensinar os primeiros passos desta dança infinita. Vamos visitar aquele assaltantezinho lá no bar.

Vestiram-se e saíram noite a fora, embalados pelo réquiem da imortalidade.

domingo, 2 de maio de 2010

Conceder Divino - Capítulo 10

Maio! Meu mês favorito! Finalmente.
E esse ano o mês do meu aniversário tem tudo para ser o melhor que já tive nesses 22 anos (é meu, estou ficando velho).
Não quero ter falsas esperanças, mas de acordo com o site da editora Draco, o prazo para avaliação do meu original que mandei para eles chega ao fim justamente agora em Maio! O único problema é que ele pode ser prorrogado e tudo mais, mas não quero pensar nisso.
Já estou ansioso demais, afinal, já foram 3 meses de espera, indo para o 4º. Está sendo bem difícil aguardar. Todo dia sinto vontade de mandar mil e-mails para o pessoal da editora, para perguntar infinitas coisas, mas acabo não mandando nenhum, para não parecer desesperado. O que realmente não estou. Mas não posso negar que a ansiedade está me matando.
Então, quem sabe, no meio desse mês, ou no final, whatever, eu venha aqui postar a melhor notícia do ano! Nossa, só de pensar já me da frio na barriga!
Meu livro, publicado! Que sonho! E está para se realizar!

Agora indo ao ponto principal deste post, o capítulo 10 é bem curtinho, mas é uma introdução a uma cena que eu gostei muito de escrever e que por sinal é imensa, hehe.
Então, o próximo capitulo, vai compensar este em dobro.
Mas até lá, não vou tomar tanto o tempo de vocês. Espero que gostem (E DEIXEM COMENTÁRIOS!)

Capítulo 10 – Emboscada

-Nossa! Então ela se matou só porque você disse que ia embora?

-Sim Stéfano, foi o que ela fez.

-Aí a Deusa do Amor apareceu e te amaldiçoou?

-SIM STÉFANO! EU JÁ REPETI A HISTÓRIA MAIS DE MIL VEZES!

Os feridos já caminhavam normalmente, indo em direção a Malpetrim, cidade mais próxima de onde estavam, enquanto Stéfano Heavenclown conhecia melhor seus novos amigos. Lyem corara por debaixo da máscara, enquanto as gêmeas desviavam o olhar.

-O que é que a gente esta indo fazer na cidade mesmo, chefinho? - dessa vez foi o bardo, que já voltara a respirar sem problemas e sem ânsias para botar a poção de cura pra fora, quem puxou o assunto.

-Eu preciso comprar um sobretudo novo pra mim. Não posso ficar andando com este aqui, rasgado e sujo. E sem falar que todos nossos suprimentos se perderam no incêndio.

-Falando nisso, temos que dar graças a todos os Deuses do Panteão por ter sobrado o suficiente daquela trepadeira maldita para fazer a poção que nós procurávamos. - disse Radagast, pela primeira vez desde que o clérigo de Hyninn começara a caminhar com eles. - E agradecer também à Katrina, que lembrou que liana significa trepadeira. - a clériga enrubesceu novamente.

Ainda faltava meio dia de caminhada até chegarem aos portões da cidade quando Tenebra começava a banhar-se de estrelas no céu. O grupo percorria o caminho conversando e brincando aos altos brados. Piadas, risadas, provocações, os amigos pareciam conhecidos de longa data, até mesmo o Heavenclown era tratado como um irmão mais novo.

-Hahaha! Então você não gosta dessas poções de cura hein, Achir? – zombou o clérigo.

-Não gosto? Eu tenho pavor dessa coisa que fecha os ferimentos! Uma espada cortar a carne e fazer verter o sangue tudo bem. É dolorido, eu concordo. Mas esse liquido de gosto estranho, ou aquela gosma mal-cheirosa, que faz o sangue estacar e a carne regenerar me da calafrios. E ainda me fazem andar com um pote dessa coisa. – Todos riram novamente, e Radagast passou o braço pelo ombro do amigo, num sinal de camaradagem, tentando deixar o bardo menos constrangido.

As gêmeas iam caminhando na frente dos rapazes, achando graça na conversa também. Entretidos entre si, ninguém prestou atenção no movimento em volta da estrada. Vários homens esgueiravam-se por entre a vegetação, calculando a hora certa para dar início ao plano. E a hora chegou quando as meninas se afastaram um pouco mais dos heróis.

Um grupo de guerreiros bárbaros surgiu da vegetação que circundava a estrada, gritando e brandindo as espadas na direção dos heróis. Uma armadilha de corda fora acionada, içando o meio-elfo e os outros homens numa grande rede presa a algum tronco. As irmãs ficaram livres. Katarina já ia desembainhando sua arma, mas foi impedida por um grupo de bandidos que a haviam cercado junto com sua irmã. Os ladrões empunhavam cimitarras velhas e enferrujadas.

Lyem e os outros rapazes tentavam, inutilmente, se libertarem da prisão de cordas. Quando Radagast estava começando a se concentrar para resolver o problema apelando para magia, o swashbuckler interferiu, colocando a mão no ombro do feiticeiro e fazendo sinal negativo com a cabeça. As gêmeas haviam sido feitas reféns.

-Mas que sorte a nossa! - uma voz gutural, vinda dos arbustos de onde saíram os bandidos, anunciou a chegada do que pareceu ser o líder dos ladrões. Um homem robusto, com braços fortes, peito largo, uma espessa barba negra em contraste com as várias cicatrizes no rosto, vestindo peles de diversos animais diferentes costuradas umas nas outras. - Paramos para roubar alguns idiotas e ainda lucramos as duas criaturas mais lindas deste mundo. - falou quase gritando, para que todos seus subordinados, e os aventureiros, pudessem ouvir. Tocou o queixo de ambas. Katrina virou o rosto, já enrubescido, enquanto Katarina cuspiu na cara do bárbaro, que com um sorriso malicioso lambeu a saliva da paladina espalhada na sua barba.

Com um movimento rápido das mãos, o líder liberou os companheiros para saquearem os pertences dos presos, e que amarrassem os dois troféus de cabelos longos e cheiro de flores amanhecidas no orvalho. Lyem dera ordem, com o olhar, de que ninguém demonstrasse resistência, qualquer movimento mais ameaçador poderia por a vida das gêmeas em risco. Todos os objetos dos rapazes foram retirados de seus respectivos donos através da rede mesmo. A poção necessária para o ritual que libertaria Dimictus estava em segurança, por enquanto, na bolsa de Katrina, guardada por dentro de seu robe.

-Mas que bela máscara você tem ai meu rapaz. - Disse o líder dos ladrões, sorrindo. - Julia, traga-a para mim! - O meio-elfo amaldiçoado sentiu o coração acelerar e a preocupação embrulhar-lhe o estômago.

A moça, Julia, andou em direção a prisão de cordas onde se encontravam os rapazes. Todos pareciam congelados, imaginando o que poderia acontecer se a ladra vislumbrasse a face de Lyem, mesmo que por um segundo apenas. A paixão que nasceria ali no momento poderia trazer alguma vantagem, mas os companheiros do swashbuckler sabiam que ele não aprovava tal sentimento, muito menos tal estratégia.

-Não ouse roubar esta máscara! - Radagast foi o único a se manifestar quando a moça retirava o chapéu de Aquai para retirar-lhe as amarras que prendiam a triste face de madeira ao rosto do herói. - Não faça isso, ou eu... ou eu... - O feiticeiro fechou os olhos, e sua respiração produzia pequenas nuvens de vapor.

-Calma meu amigo, não seja imprudente. - ordenou-lhe o meio-elfo, pensando nas gêmeas que foram feitas reféns.

-Você ouviu seu parceiro, não ouviu? Fique quieto ai! - retrucou a ladra, acertando um forte golpe com o cabo de sua adaga na nuca do feiticeiro, embaçando sua visão e sua concentração na mancha disforme da pré-inconsciência. O frio repentino desapareceu.

No mesmo instante Lyem sentiu o vento bater em suas bochechas, como a muito não acontecia, e escondeu a face com os longos cabelos, jogando-os para frente balançando o pescoço. Felizmente a ladra não o viu descoberto.

O bardo olhava com o canto do olho paras as reféns, imaginando se elas tentariam finalmente ver a face do homem que amam. Mas com muito esforço, ambas olhavam para o chão, lutando contra a curiosidade e a paixão.

-O que vamos fazer com esses caras, chefe? - perguntou a moça que pegara a máscara de Lyem. - Matamos?

-Hahaha. Não será necessário. Deixe-os presos ai em cima. Se eles derem sorte, alguém disposto a ajudá-los passará por aqui.

-Mas e se eles vierem atrás da gente, chefe? - perguntou outro ladrão, que ouvia a conversa.

-Se eles vierem nós lhe daremos uma surra que jamais vão se esquecer. - gabou-se o líder, com sua risada que mais parecia um porco no matadouro. Todos os outros riram também. Lágrimas escorreram dos olhos de Katrina, mas ela não fez um barulho sequer.

domingo, 14 de março de 2010

Conceder Divino - Capítulo 9

Três meses sem aparecer por aqui. What a shame!
Mas devo confessar que fiquei meio sem vontade de postar qualquer coisa.
Vejam só, três meses, e o último post não tem nenhum comentário. Isso é tão bom quanto um chute na virilha.

É uma merda para o blogger se ver, como posso dizer, ignorado. Não estou falando que ninguém lê o que escrevo, mas não receber um feedback é muito ruim! Po, o bom do blog é a parte em que o leitor interage, xinga, elogia, o diabo que quiser.
Então, por favor, se você está lendo isso aqui, ME DEIXE UM RECADO! mesmo que não leia o texto aqui em baixo.
Eu sei que ninguém tem obrigação de ler os capítulos enormes que eu posto aqui, que todo mundo tem o que fazer... mas não tira pedaço ler um trecho por dia, e depois deixar um recadinho para mim. "nossa Dan, que porcaria foi essa?" ou "nossa, eu ri quando li tal coisa." QUALQUER RECADO!! É PRA ISSO QUE SERVE BLOG!

Agora vamos às boas notícias. Em Dezembro terminei meu primeiro livro (aleluia) e há algumas semanas recebi meu certificado de direitos-autorais da BN. Estou muito animado! Já mandei uma cópia do original para uma editora, e estou aguardando passar o período de avaliação, para saber se vai rolar a publicação! Imaginem o frio na barriga! Espero poder postar essa boa notícia aqui no menor prazo possível que a editora me deu, ou seja, daqui uns 2 meses.
Até lá, aqui vai mais um capítulo do meu livro aposentado.

Capítulo 9 – O motivo de Tasther

Não foi a promessa de uma vida de aventuras que levou Aughos Tasther a treinar arduamente esgrima por incontáveis anos. Filho de um rico fazendeiro do reino dos cavalos, Namalkah, gostava da espada como seu povo gostava dos eqüinos. Enquanto todos cuidavam dos nobres e imponentes animais, o pequeno Aughos aperfeiçoava sua esgrima, esperando o dia que a poria em prática numa guerra, não importando qual fosse.

Tasther nunca gostou muito de cavalos, a razão pela qual seu pai, Torler Tasther, vivia brigando e discutindo com o filho. “Largue esta espada inútil meu filho, sem um bom cavalo uma arma não lhe servirá de nada” dizia o velho, e o garoto fingia não ouvir, mas por dentro a vergonha e a raiva consumiam seus sentimentos. Mas ele não odiava o pai, nem o pai o odiava.

Aughos podia não dedicar toda sua atenção aos cavalos, mas admirava a força e a competência dos animais. De vez em quando, nas horas que não estava treinando, ia visitar os grandes estábulos e escovar alguns cavalos, escondido de seu pai, que sempre ficava sabendo, e ficando orgulhosíssimo, mas nunca contou nada ao filho.

Quando completou 16 anos, o garoto já era um exímio espadachim, mas continuava treinando todos os dias, e não pôde acompanhar o pai em uma caravana que os grandes criadores de cavalos realizaram, atravessando vários reinos por toda Arton, vendendo os belos corcéis, fortes como touros e ágeis como leopardos.

Três anos se passaram sem noticias do destino da caravana, quando um cavaleiro, que estava acompanhando os fazendeiros na viajem, chegou a Palthar, capital de Namalkah, e convocou as famílias daqueles que haviam partido há três anos. Aughos respondera a convocação.

A praça da capital, na tarde do dia seguinte, se encheu com os parentes chamados para ouvir o que o viajante tinha a dizer. O trotar dos cavalos ecoavam por todos os cantos da cidade. O clima de preocupação tomou conta da atmosfera do lugar, várias teorias diferentes sobre o paradeiro dos fazendeiros se espalharam entre os presentes, provocando choro e desespero. Mas todos se calaram no momento em que o rapaz que os chamara ali começou a falar. Mas suas palavras não acalmaram o espírito de ninguém.

A notícia que o homem trouxera não podia ser pior. A caravana fora surpreendida, quando passava ao redor de Trebuck, pela mortífera Tormenta, tempestade rubra que extermina tudo e todos por onde passa, a encarnação mais cruel e terrível da morte.

O relinchar e o trote dos cavalos foram abafados pelo choro, súplicas e blasfêmias dos parentes das vítimas da tempestade. O maior receio de todos se tornou real, e da pior forma possível. O desespero, a melancolia e a descrença tomaram conta de todos ali na praça, todos, exceto uma pessoa. Aughos Tasther não estava chorando, não estava desesperado e não estava surpreso por perceber que não ligava para aquilo tudo. “Eu sempre soube que acabaria assim” mentiu pra si mesmo em pensamento, “esta tempestade, Tormenta, é invulnerável, indestrutível e extremamente poderosa. Quem meu pai achou que era pra tentar desafia-la”. Os pensamentos do garoto iam longe, inventando teorias que apaziguassem a angústia que ele não queria sentir.

E foi assim, tentando não sentir tristeza, remorso, pena, o que quer que fosse, do próprio pai, que Aughos começou a reverenciar a Tormenta, com fatos fictícios, que ocorreram apenas em sua mente, vangloriando e reverenciando a tempestade. Tasther herdara as propriedades do pai. Fazenda, cavalos, empregados e escravos, tudo agora era do rapaz, que começou a usar seu dinheiro e influência para criar e treinar um pequeno exército. Deixou de lado a criação de equinos para começar a fabricar soldados, que seguissem sua causa de “adoração a toda-poderosa Tormenta”. Escolheu a serpente enrolada no pergaminho para ser seu brasão, justamente com intuito de afugentar os mais covardes e gerar discussões entre conservadores. Apesar do símbolo, a causa do rapaz nada tinha a ver com o Deus da Intriga.

Mais de cinco anos se passara desde então, e o pequeno exército juntara quase duzentos guerreiros, liderados por Aughos. E numa bela manhã, fresca como o orvalho na grama recém acordada, Tasther recebera uma carta anônima, junto com ela veio um livro de capa negra, muito antigo. A curiosidade dera lugar a euforia quando o guerreiro terminou de ler a correspondência. Até a desconfiança fora afogada pela ansiedade e ganância. Aquele livro era, sem sombra de dúvidas, o melhor presente que alguém no mundo poderia ganhar, e o rapaz sabia exatamente o que fazer com ele. Ali, em cima da mesa, estava a receita do ritual mais poderoso já criado em Arton, o Conceder Divino. Encontrando todos os ingredientes, o que não seria uma tarefa fácil, e seguindo corretamente os passos descritos na receita, Aughos Tasther podia finalmente conseguir seu mais íntimo desejo, se tornar o Deus da Tormenta.

A tarefa vinha se mostrando mais difícil do que parecia. Nem com todos seus subordinados ajudando a procurar, Aughos conseguira encontrar um ingrediente qualquer. Mas a busca não fora em vão. Em sua peregrinação, procurando alguma informação, Tasther encontrou Nioksel, a formosa assassina que aceitara ajudar o guerreiro em sua jornada, apenas em troca de dinheiro. Em poucos dias a garota se tornara o braço direito do rapaz, e também sua amante.

Porém, acompanhando a sorte do achado, veio o azar da concorrência. Um grupinho de guerreiros amadores parecia estar tentando conseguir as mesmas peças para o ritual, peças únicas por sinal, ou seja, apenas um deles poderia conseguir realizar seu desejo, e Tasther não está disposto a abrir mão do seu.