quarta-feira, 24 de junho de 2009

Conceder Divino - Capítulo 4

Mais um mês que se vai... caramba como o tempo voa... acho que já disse isso antes.
Mas voa mesmo... E estou me sentindo ótimo! hehe... Não só estou me dedicando bem ao meu livro novo, como estou muito bem empenhado em emagrecer minha meta!
Hoje me pesei depois de caminhar (finalmente fui acompanhado, e muito bem por sinal ^^) e vi que estou pesando 85 kg... não sei qual era meu peso há trinta dias, mas com certeza alguma coisa já perdi hehe.

Meu livro já chegou na metade, e a partir de agora as histórias vão ficando cada vez mais fáceis de escrever, pois não preciso ficar explicando o que é cada coisa do cenário. Então, tudo me leva a crer que a produção daqui para frente vai ser beeeemm mais rápida hehe...
Assim que eu terminar o conto que estou escrevendo agora, porque ele está bem complicado ein! Veja, estou escrevendo-o em primeira pessoa, um estilo que não estou muito acostumado, mas está ficando muito bom.

Falando em primeira pessoa, agora em Julho sai o resultado de uma promoção da Devir livraria, a qual estou participando! Se tudo der certo, no próximo post vou colar aqui o link do resultado para que vocês leiam meu conto entre um dos 3 primeiros colocados xD...
se não der muito certo, eu publico o conto aqui mesmo hehehe... tomara que vocês leiam no site da Devir xD...

Boa leitura!

Capítulo 4 – Grande Academia Arcana.

Quatro meses atrás, naquela mesma cidade, o grupo de heróis, liderado por Christopher, paladino de Khalmyr, estava aos pés da grandiosa estátua da deusa, cuja cidade recebera seu nome devido à estupenda “obra de arte” que ali se encontrava. O grupo acabara de chegar de Triunphus, e estavam cansados, as armaduras e equipamentos se tornavam muito pesados depois vinte dias de viajem à pé, sem descanso.

- Por Khalmyr, onde está aquele velho mago? Creio que todos querem ouvir logo o que ele tem a dizer, para finalmente podermos descansar no Meia Noite. - Perguntou aos outros três companheiros que puderam vir a cidade, e sentiu um frio na barriga quando viu mais uma vez que Dimmictus não estava ali com eles. Todos responderam sim com a cabeça, as gargantas estavam secas e os pés latejavam, toda a vida de heróis eles caminharam por todos os cantos do mundo, mas ainda sim o esforço cobrava sua parte.

O grandioso astro Vigilante estava bem à cima deles, paralelo com a deusa petrificada, o que parecia ser mais um castigo para ela, com a luz incidindo diretamente em seus suplicantes olhos de pedra. Os forasteiros estavam todos sentados, à sombra propiciada pelo monumento. Haviam muitas pessoas passando por ali, aglomerados de vendedores e moradores, e muitos vinham ver de parte aquele grupo de aventureiros, que nos tempos atuais, é um dos grupos mais famosos de arton.

- Olha mãe, aquele não é o grupo do Christopher?

- É sim minha filha, não aponte o dedo, é falta de educação.

- O que será que eles fazem aqui?

- Então este é o famoso grupo que conseguiu sair inteiro daquela tempestade que corrói onde os lugares em que chove?

- Será que a tempestade esta vindo pra cá?

Todos que passavam ali cochichavam e apontavam para o grupo, e várias teorias do por que eles estavam ali surgiram dentro da multidão, nenhum chegou nem perto da verdadeira.

Além de Christopher estavam ali também Derik, o Guerreiro, rosto rude, músculos bem definidos, mas não muito grandes, e cabelos curtos; Isyt, a Clériga de Thyatis, muito bonita, com corpo bem torneado e exuberante, apesar de se manter oculto pelas vestes; e por último, Ingrid, a Matadora de Trolls, que nos últimos anos vem matando muito mais do que apenas trolls, também é humana e muito bonita, as constantes viagens e batalhas ajudaram a definir seu corpo em uma forma muito bela, que as roupas curtas, muito diferentes das de Isyt, ajudavam a acentuar suas lindas e hipnotizantes curvas.

De repente a balburdia silenciou, e uma parte da multidão abria caminho agora, para que duas pessoas pudessem se aproximar dos pés da deusa estátua. O que vinha na frente era alto, cabelos negros, rosto muito fino e alguns traços que revelavam certa idade, vestia um grande robe azul, muito adornado, com algumas figuras arcanas bordadas, segurava um grande cajado fino com algumas pedras preciosas na ponta e palavras estranhas escritas no cabo. Quando este finalmente chegou perto dos heróis, Christopher reconheceu então, Vladislav Tpish caminhando ao encontro de seu grupo.

- Fico demasiadamente feliz por estarem aqui, pontuais como nem mesmo eu fui capaz de ser. Peço que me perdoem. - Falou o necromante, curvando levemente o corpo para frente.

- Deixe disso homem, tu não tens que pedir nada. - Respondeu Christopher, se levantando e indo cumprimentar Vladislav.- Nós é que temos de agradecer pela oportunidade de finalmente nos encontrarmos pessoalmente, Vladislav Tpish, o necromante, e pelo convite de Talude.

- O convite vocês poderão agradecer diretamente ao emissário, mas devo admitir que fico honrado por parecer tão importante aos olhos de todos vocês. - Disse com um grande sorriso no rosto. - Creio eu, a menos que esteja muito enganado, que você é Christopher, o paladino de Khalmyr? É uma honra finalmente te conhecer. - Balançou duas vezes a pesada mão do visitante, com um sorriso no canto da boca.

- Exato, é uma honra para nós conhecê-lo também. Estes são meus amigos e parceiros de trabalho – começou a apontar os companheiros, que já estavam de pé. - Derik, o guerreiro; Ingrid, matadora de Trolls e outras criaturas; e Isyt , clériga de Thyatis.

Um por um, cumprimentaram o mago, que se mostrou muito contente por estarem ali, mas depois de saudar o último visitante, o necromante percebeu que faltava um herói ali, entre os outros. “Onde esta o paladino dos deuses, Dimictus”, e seu sorriso se esvaiu junto com os dos aventureiros. “Infelizmente nosso amigo teve de ficar em Triunphus, por motivos de força maior” respondeu Derik, com um tom melancólico na voz. Vladislav, que entendera na mesma hora o que o destino havia reservado para o pobre paladino, nada mais falou sobre este assunto, voltando a se pronunciar apenas para pedir aos viajantes que o seguissem.

-Venham meus amigos, Azgher já os maltratara demais, vamos agora para a Grande Academia Arcana, Talude os espera em seu escritório. - Disse virando as costas, fazendo um gesto com o bastão, chamando-os. Todos os trabalhadores e moradores que estavam ali em volta romperam em conversas e suposições novamente.

- Grande Academia Arcana....

- O que será que Talude quer com Christopher?

- Será que eles serão premiados por algum feito fabuloso?

- O que será que aconteceu com o tal paladino dos deuses?

O necromante havia conduzido todos para longe da estátua, indo para um pequeno bairro residencial, desprovido de multidão e cheio de paz. Pouco foi dito durando o trajeto. Alguns minutos depois de chegarem ao bairro, puderam avistar um pequenino casebre, bem humilde, com uma simples placa de metal com os dizeres “Escola de Magia” sobre a porta. Todos, com exceção de Vladislav é claro, deixaram os queixos caírem impressionados.

- Aqui é a “Grande” Academia Arcana? - perguntou com escárnio, Derik, para o mago, mudando o tom ao pronunciar o nome da instituição.

- Ah meu amigo guerreiro, nossa academia guarda muitos mais segredos do que número de estrelas que Tenebra é capaz de pintar em uma noite sem nuvens. E eu ficaria mais surpreso se vocês não estranhassem a nossa fachada. - Um belo sorriso se alargou em sua boca, enquanto todos entravam na minúscula sala de entrada, onde havia uma outra porta à frente e uma escrivaninha abandonada. - A verdadeira Grande Academia Arcana se encontra do outro lado desta parede – Vladislav se postou diante da porta, pronunciou uma palavra arcana, a qual os heróis mal puderam ouvir muito menos decorá-la. Então ela se abriu.

Do outro lado do portal, era possível ver uma grande construção, muito diferente do casebre em que estavam. Três andares cheios de janelas e uma exuberante fachada. Os queixos tornaram a cair. “Vamos entrar, vocês têm uma reunião importante com o diretor, ele os aguarda em sua sala, no terceiro andar.” o mago necromante os conduziu para fora do casebre indo em direção à imensa entrada.

O ranger das portas se misturou com um suspiro de surpresa e um “Nossa!” vindo dos convidados. Várias estátuas da graciosa deusa da magia, Wynna, decoravam o grande salão principal, a deusa parecia dançar por entre o cômodo. Uma escada, muito larga, se postava bem à frente da porta de entrada, alguns professores e os poucos alunos que se encontravam neste aposento pararam o que estavam fazendo para ver e dar boas vindas ao grupo visitante.

Vladislav acompanhou-os até o terceiro andar, sempre sorridente e saudando todos que encontrava no caminho. Chegaram finalmente à grande porta da sala de Talude, que se encontrava fechada, nela havia algumas inscrições e desenhos da deusa da magia, sempre parecendo estar dançando.

- Bom, aqui vocês devem entrar sozinhos, as instruções que irão receber, nós professores, já estamos cansados de ouvir.

- Obrigado. - respondeu o líder do grupo. Todos acenaram com a cabeça.

O necromante ainda deu três batidinhas na porta, e abriu ao ouvir a permissão vinda do homem que estava lá dentro. Estendeu a mão para os convidados, fechou a porta atrás deles e se retirou.

O recinto no qual haviam entrado estava muito quente e úmido. Meio apertado para os quatro forasteiros, levando em conta a quantidade de objetos que habitavam o local. Estantes contendo o que parecia ser a biblioteca particular do diretor, algumas escrivaninhas espalhadas pelo chão, com várias pilhas de papéis sobre elas e uma escrivaninha maior na parede oposta a porta, e atrás dela estava sentado, olhando fixamente com um olhar penetrante para o grupo, Talude, o Mestre Máximo da Magia.

O velho mago tinha longos cabelos brancos, os quais se fundiam com a barba, de mesma cor e tamanho. Os olhos, penetrantes como uma adaga muito afiada, emoldurados por rugas devido a idade, pareciam prender os visitantes, transmitia certa sensação de coragem e esperança. Fez um sinal com a mão para que todos se sentassem, fazendo a manga de seu robe escarlate balançar sobre uma vela que estava acesa sobre sua mesa, o que fez a chama dançar e se apagar.

Nenhuma palavra havia sido pronunciada desde que o necromante fechou a porta, mas assim que os aventureiros estavam todos acomodados, Talude quebrou o silêncio.

-Boa tarde a todos! É com imenso prazer que recebo vocês na minha humilde escola. - Saudou-os, abrindo os braços, como que tentando abraçar a todos. A cara séria deu lugar a um pequeno sorriso.

- O prazer é todo nosso, se me permite dizer, de termos sido convidados para visitá-lo.

- Receio dizer, mas creio eu que a estadia de seu grupo não será em nada parecida com uma simples visita. - Respondeu o mago ficando sério novamente. Os forasteiros olhavam confusos para o diretor. - Antes de dizer o motivo pelo qual os “convidei” até aqui, gostaria de saber onde está o outro paladino integrante de seu grupo? Dimictus é o nome dele se não me engano.

- Sim, este de fato é o nome dele – Disse Christopher, olhando para os pés da mesa. - Recebemos seu convite quando estávamos na cidade de Triunphus, que por um acaso se tornou o lar permanente de nosso companheiro. - Isyt chupava o ar com o nariz, tentando segurar o choro.

- Oh, que pena. Creio que isto complicara um pouco mais nossa situação. Mas uma vez sanada minha dúvida, acho que já esta mais do que na hora de termos nossa conversa. - Talude mirou a vela apagada com o canto do olho, e no mesmo instante a chama reviveu.

Um segundo antes de Talude abrir a boca barbada para começar a falar, a porta se escancarou, era Vladislav, que trazia um pouco de chá para todos, o vapor que saía do bule deixou a sala ainda mais quente. - Desculpe-me a intromissão diretor, apenas achei que gostaria de um chá para acompanhar a monótona conversa que está por vir. - o necromante deu uma piscadinha para Ingrid, enquanto depositava a bandeia em cima da mesa, por entre alguns papéis. - Com a licença de todos, vou me retirar.

- Conversa monótona? - perguntou Isyt, ainda com o choro no limiar dos olhos, para o diretor.

- Sim, querida clériga, mas de extrema importância. A decisão que vamos tomar aqui hoje pode salvar ou arruinar por completo o Reinado e toda Arton. - O olhar do mago fez o coração da mulher se acelerar, e um frio no estômago a fez esquecer Dimictus e o choro.

- Mas então não nos faça esperar, por favor, antes que a ansiedade acabe por acabar com nossos nervos. - Disse Ingrid que parecia estar aflita, respirando forte, devido a umidade, que parecia sufocá-la.

- Peço desculpas por fazerem vocês esperar. O motivo pelo qual os chamei aqui se deu devido ao fato que todos os cantos do Reinado vêm falando até hoje! Que o grupo de aventureiros, liderados por Christopher, o paladino de Khalmyr, saiu praticamente ileso de uma área cuja tempestade rubra devastava. Mas quero deixar claro que não foram chamados aqui para festejaram tal feito, nem mesmo para serem presenteados. - Disse Talude, ao ver um sorriso na face dos visitantes ao ser mencionado seu maior feito.

- Vejo que as notícias aqui no reinado voam mais depressa do que o mais veloz dos hipogrifos. - Comentou com um sorriso de satisfação o guerreiro.

- E devido a tal proeza – continuou o diretor, não dando atenção ao comentário feito por Derik, que se sentiu envergonhado e abaixou a cabeça. - percebi que vocês estão aptos a assumir uma responsabilidade que há muito tempo venho tentando dar vida.

- E o que poderia ser? - Perguntou o confuso, porém muito animado, paladino de Khalmyr.

- A muito tempo venho reunido todas as informações possíveis desta terrível tempestade que ataca nosso mundo e sobre os abomináveis demônios que nela vivem, e eu decidi que nós temos que revidar de algum jeito, ou o reinado e toda Arton sucumbirão. Então decidi formar uma força especial, na qual estou convidando vocês para receberem o cargo, um grupo de Estudo e Extermínio de Áreas de Tormenta.

Os queixos despencaram uma terceira vez. Christopher, assim como os outros, não entendera muito bem o que aquela proposta queria dizer.

- Hum, mas o que seria exatamente isso? E por que convidou a gente? Provavelmente muitas pessoas já sobreviveram a Tormenta. - Disse, depois de alguns segundos surpreso, Christopher, o paladino.

- Muito menos do que você imagina meu caro. - Respondeu serenamente Talude. - Para ser sincero, acho que não mais de três ou quatro pessoas já conseguiram manter o estado mental e físico intactos após abandonarem a tempestade rubra, isso quando alguém consegue sair.

- Certo, certo, mas explique melhor o que quer dizer com grupo de estudo e extermínio. - Ingrid estava muito confusa, a respiração já se acostumara ao clima do ambiente, mas o plano apresentado pelo mago a deixara agitada.

- Tudo bem, tudo bem. Todos os questionamentos serão esclarecidos da melhor maneira que eu puder respondê-los. Mas lhes peço que me dêem tempo, não posso responder duas perguntas ao mesmo tempo, ainda não adquiri esta habilidade. - Mirou todos, que permaneceram em silêncio. Ingrid tinha toda a face corada com o sangue que subira, esquentando o rosto de vergonha.

- O convite que lhes esta sendo oferecido é estudar, por um período de quatro a cinco anos em minha academia, - Continuou Talude, vendo que ninguém mais o interromperia. - e aprender com nossos melhores professores algumas magias que podem ser de grande utilidade para quem se aventura dentro da terrível chuva ácida. Mas o maior objetivo por trás disso tudo é o fato de que eu estaria contratando vocês, assim que terminassem os estudos, para explorarem os locais nos quais a tempestade rubra espalha a destruição, e se possível, acabar com tal ameaça.

- Entendo. E nestes anos então nós ficaríamos morando aqui? - disse Christopher, esperando alguns segundos, para ter certeza de que o diretor já havia terminado de falar.

- Sim. Aqui vocês receberão moradia e alimentação, junto com os outros alunos, é claro. Mas vocês, como meus convidados, nada terão de pagar durante todo o período que aqui permanecerem, e o melhor de tudo, não serão submetidos aos testes de admissão.

- Compreendo, e agradeço a generosidade. Mas esta não é uma decisão que podemos tomar sem conversarmos a sós. - apontou para o grupo em volta. - Será que o senhor pode nos dar alguns dias para pensarmos?

- A Christopher, por todo o Panteão! Olha só a oportunidade que aparece para gente, e você ainda quer conversar? - Perguntou Ingrid, muito animada. A respiração ofegante e a desconfiança deram lugar a euforia, seus olhos brilhavam como espadas na forja.

E a julgar as feições dos outros companheiros, Christopher percebeu que a decisão já estava tomada.

- Bom, nós já conversamos o suficiente, e tomamos nossa decisão senhor. - O paladino olhou imponentemente para o diretor, se levantando junto com o mago. Cumprimentaram-se então. - Nós, o grupo de Christophe o paladino de Khalmyr, aceitamos este convite, que para nós foi a maior recompensa que ganhamos enquanto heróis! - fez uma reverência.

- Eu lhes agradeço, do fundo de meu coração, esta foi uma sábia decisão. Eu não esperava menos de pessoas como vocês, ainda mais lideradas por um paladino do deus da justiça. - Talude estava muito sorridente, parecia que havia aliviado um peso do tamanho das Montanhas Uivantes de suas costas. - Vocês agora são uma esperança no peito daqueles que já não davam mais valor à vida no nosso mundo. Agora me acompanhem, por favor, vou lhes mostrar sua nova moradia.

Talude saíra de sua sala, e desceu com os novos alunos para o primeiro piso. “Neste prédio que estamos funciona a administração da academia. Nosso auditório para algumas palestras muito importantes fica no primeiro andar. È aqui que ficam guardados todos os tipos de documentos referentes aos alunos.” O diretor, assim como Vladislav, cumprimentava humildemente a todos, professores e os poucos alunos que ali se encontravam. O grupo de heróis fazia o mesmo.

Ao saírem da administração, os heróis se deparam com uma imensa paisagem, várias instalações enormes em volta e à frente de onde eles se encontravam, e grandes árvores cresciam no horizonte claro como uma tarde em Arton. Não havia nenhum casebre em frente a porta que estavam. Agora estava claro na mente deles, a Grande Academia Arcana se situava em outro plano, e não na cidade de Valkaria.

-Aqui, à direita, vocês podem ver nossa biblioteca. - disse o diretor, indo para frente e indicando com um acenar de cabeça as instalações do local. - Tenho o orgulho de dizer que esta é a maior biblioteca de Arton. Bem à frente dela, e a nossa esquerda, fica o prédio onde acontecem as aulas teóricas. Ali dentro ninguém usa magia, a não ser os professores e apenas em último caso.

O novo grupo de alunos, mesmo já tendo visto muita coisa durante suas aventuras, pareciam deslumbrados, novamente podiam ser vistos de queixo caído, olhando para todos os lados, tentando absorver toda a magnificência da paisagem. Seguiam, calados, o diretor, apenas balançando a cabeça, em sinal de aprovação, quando Talude os mostrava um novo prédio.

-Logo ali ao lado da biblioteca, ficam nossos laboratórios e salas para aulas práticas.,- quando todos olharam para o lugar indicado, uma janela do segundo andar piscara, com uma luz vermelha muito forte, mas nenhum som foi ouvido. - Não se preocupem, quase nunca acontece algum acidente grave nas aulas. - continuou, dando uma risadinha ao ver a cara de espanto de Isyt.

Fora do prédio, havia muitos alunos e alunas, andando com livros nas mãos, cadernos, pequenos caldeirões, alguns vestidos como Vladislav, outros usando roupas mais leves, como shorts e camiseta, algumas alunas vestiam pouco mais do que pedaços de pano cobrindo o que o mínimo que pede o pudor, outras se cobriam quase até os olhos. E nesse momento parece que todos voltaram os olhares e a conversa para os estranhos que andavam com o diretor. Alguns estudantes mais curiosos, e corajosos, viam cumprimentar Talude, e de quebra ver melhor quem andava com ele. Não demorou muito para descobrirem que era o grupo de heróis de Christopher, e a balburdia tomou conta dos corredores e salas, tão rápido quanto um raio de sol iluminando o horizonte de manhãzinha.

Agora a comitiva passava entre duas construções, uma pequena, se comparada com as outras, à esquerda, e uma um pouco maior que as demais a direita. “Este pequeno estabelecimento é nossa enfermaria, que volte a meia tem algum trabalho, devido a pequenas falhas, mas nada muito grave. Temos a honra de os clérigos de Lena do templo de Valkaria estarem sempre dispostos a cumprir plantão aqui conosco.”

-E aqui ficam os alojamentos dos alunos, consequentemente, vocês têm quartos aqui também, já estão todos arrumados. Mais tarde vou pedir para algum aluno lhes mostrar seus respectivos dormitórios.

- Senhor Talude, para on...

- Me chame apenas de Talude, por favor.

- Ah, tudo bem, me desculpe. - a face de Isyt estava mais vermelha do que a tempestade que leva o nome de Tormenta. - Mas, para onde estamos indo?

O diretor estava conduzindo os quatro novos alunos para uma trilha, que ficava ao lado dos alojamentos e da enfermaria. O caminho era cercado por árvores e não se podia enxergar muito além.

- Nós estamos indo para um dos lugares mais importantes para o estudo de vocês. Mas creio eu que somente depois dos dois primeiros anos de estudo é que vocês irão visitar este lugar novamente. Estamos indo para a Área de Contenção de Espécimes.

A clériga não entendeu direito o que isso queria dizer, mas não fez mais nenhuma pergunta.

Após andarem alguns minutos para dentro da trilha, já era possível avistar um imenso galpão, também cercado pelas árvores, e algumas construções menores por perto. Ali se formava uma grande clareira, abrindo espaço onde entravam as luzes do sol, mas já era quase noite, então a paisagem já estava ficando sombreada e tenebrosa.

“Não vamos perder tempo olhando todas as criaturas que temos aqui, nosso objetivo principal é muito mais importante do que um simples passeio recreativo.” Talude parecia estar com pressa, e muito excitado. O diretor os conduziu para uma das pequenas instalações, que parecia estar trancada magicamente, pois a porta parecia embaçada, como se estivesse dentro de um rio, e na porta havia uma placa: “Centro Avançado de Pesquisa da Tormenta”.

- Ai dentro tem o que eu estou achando que tem? - Perguntou eufórico o guerreiro.

- Se você esta achando que aqui dentro se encontram alguns demônios que habitam a tempestade vermelha, você esta certo. Mas devo dizer que os espécimes que nós temos, não são nem de perto todos os que existem.

- Sim, sim, eu sei. É por isso que a gente esta aqui não é? - respondeu Derik, muito confiante.

- Certo mais uma vez. - Respondeu o Mestre Máximo da Magia, olhando com o canto do olho para os alunos, sorrindo, e neste momento, ele abrira a porta.

Barulhos estranhos vinham de dentro do prédio. Estalos, chiados, sussurros, murmúrios, vários sons diferentes ecoavam pelo aposento, rebatendo nas paredes e entrando nos ouvidos de todos. Era difícil identificar o cheiro que o lugar exalava, pois o ar era muito denso e pesado, fazendo todos agora, não somente Ingrid, respirarem com dificuldade, com exceção de Talude é claro. O coração de Christopher acelerou, lembrando da terrível sensação de ver a tempestade rubra por dentro, sentiu os dedos fechando no cabo da espada, por instinto. Seus parceiros faziam o mesmo atrás dele.

Havia algumas jaulas espalhadas pelo ambiente, mas nenhuma era muito convencional. Todas eram trancadas e envoltas por fortes mágicas de contenção, parecidas com a que trancava a porta daquele lugar, mas estas não pareciam estar sob a água, algumas ardiam em chamas, outras transportavam correntes elétricas em suas grades. E lá estavam, presos magicamente, os inquietos demônios da Tormenta.

Um frio na barriga se somava agora aos corações acelerados dos heróis. Diante deles estavam algumas das criaturas mais mortais e apavorantes que Arton já conheceu. Criaturas incetóides e outras crustáceas, em pé sobre suas patas, ou seja lá o que for aquilo que as sustenta, membros inclinados em ângulos inimagináveis, grandes olhos poliedros, alguns com pinças onde deveria ser a boca, outras com asas finas, quase transparentes, saindo de suas costas. Aquela com certeza era uma visão, no mínimo perturbadora, até mesmo para Talude, e as mulheres desviavam o olhar depois de alguns segundos. Quando os monstros perceberam que o homem, de barba e cabelos brancos, estava diante deles, se acalmaram e a barulheira se calou.

Era possível identificar alguns machucados na estranha e nojenta pela daqueles seres asquerosos, provavelmente provocados por tentativas infrutíferas de escaparam da prisão. O paladino de Khalmyr descansara a mão que segurava a espada, mas estava sempre atento a qualquer movimento vindo de dentro das jaulas.

- Foi com estas belezinhas aqui que conseguimos descobrir o pouco que sabemos sobre a Tormenta. - Disse o diretor, se virando para o grupo de aventureiros. - E é de acordo com o que a gente sabe que vocês terão o treinamento direcionado com o clima, condições físicas e mentais imitando, ou pelo menos tentando imitar, as áreas na qual a tempestade se aloja. Mas isso somente daqui um ou dois anos. - Sorriu, com um brilho entusiasmante nos olhos, que pareciam guardar todo o poder do mundo em seu interior.

Ficaram ali observando os prisioneiros por mais alguns minutos, andando de um lado para o outro, lendo as pequenas placas que identificavam as quatro jaulas. Shinobi, Tahab-Krar (as grades que prendem este caranguejo gigante ocupavam quase metade do salão.), Kanatur e Tai-kanatur, todos os nomes estão no idioma tamuraniano, e têm significados específicos paras os diferentes tipos de demônios.

-Estes são os únicos exemplares que se pôde capturar. Nós temos registros de mais alguns bichinhos desses, mas que a apreensão dos mesmos não pode ser executada. - O diretor fez um sinal, apontando a porta, já era hora de saírem dali. - A maioria que esta presa aqui, foi trazida pelo Protetorado do Reino, grupo no qual faz algumas expedições com a mesma finalidade das que vocês farão. O depoimento deles também foi de grande ajuda para nossas pesquisas. Provavelmente vocês trabalharão juntos em algumas missões, quando seu grupo já estiver apto.

-Não vejo a hora. - Comentou Christopher, rindo pela primeira vez desde que chegara na cidade. - Vai ser bom conhecer guerreiros tão valorosos.

-Creio que sim. O nosso Coordenador Chefe do Centro de Pesquisas da Tormenta, o senhor Harlond Gherst, tem todas as informações já obtidas guardadas com ele. Infelizmente no momento ele teve que ir até Valkaria com a professora sênior Esplenda. Eles devem estar de volta dentro de algumas horas. Vamos voltar agora para minha sala, assinar os papéis! - Um grande sorriso se escondia atrás da barba grisalha.

Quatro meses se passaram após o grupo ter se matriculado, e todos já estavam se dedicando ao máximo nos estudos, e o motivo pelo qual eles estavam tão empenhados, foi o fato de terem descoberto que Thormy, o Imperador-Rei iria financiá-los após se formarem, e que o pagamento era espetacular. Fizeram amizade rápido com os outros alunos, a grande maioria mais novos até mesmo do que Isyt, que tinha apenas 22 anos, e era a mais nova dos heróis de Christopher.

Em todo esse tempo estudando as magias simples de cura e força mágica, na teoria, não houveram mais visitas ao estande do Zôo, o que todos acharam ótimo.

E no último fim de semana, Derik e Christopher foram a uma taberna, para comemorarem as boas notas nas primeiras provas. Ouviram uma música muito interessante, que contava a história de um grupo de aventureiros que ajudariam um grande paladino dos deuses amaldiçoado a morar para sempre em Triunphus, a reencontrar seus amigos, que tanto ansiavam em tê-lo de volta.