quinta-feira, 9 de abril de 2009

O Conceder Divino - Capítulo 2

Caramba, como os meses estão passando rápido, meu Deus do céu.
Aqui estou eu, como prometido, para postar o capítulo dois do meu primeiro livro.
Bom, esse mês, apesar de ainda estar começando, já me rendeu muita coisa boa, e ainda tem muita coisa para acontecer.
No dia 4 eu estava em SP, assistindo ao Terceiro International Magic Festisval. Nossa, dizer que foi incrível é subestimar o evento. O show foi FANTÁSTICO!

Além disso esse mês também pintaram algumas apresentações bem interessantes para eu fazer mágica também. O que isso tem a ver com literatura? NADA, mas eu tinha que falar isso para alguém, hehe.

Mas tenho novidades literárias também. Esse mês termina o prazo para as inscrições de um concurso de contos de terror, que eu vou mandar um material meu para participar. Se tudo der certo, e meu conto agradar os julgadores, esse material será publicado no site de uma grande editora aqui do Brasil. Vai ser um passo e tanto para mim, hehe.

Agora chega de ladainha, vamos logo ao próximo capítulo:

Capítulo 2 – Como Reverter a Bênção/Maldição

Mal os aventureiros adormeceram e Azgher já tomava seu lugar ao céu, no infinito ciclo entre ele e Tenebra, e fora iluminando a cidade, que depois de uma noite de muita algazarra, acordou calma e muito quieta. Lyem fora o primeiro a acordar, e a primeira coisa que fez foi se certificar que sua máscara estava cobrindo seu rosto, e estava. Levantou-se calmamente, com os cabelos negros, lisos e compridos, levemente embaraçados, e foi tratar da higiene pessoal. Lavou o rosto e cuidou dos dentes numa velocidade incrível, ele odiava o fato de não estar usando sua triste face de madeira, mas ele tinha seus motivos para isso.
Lyem Aquai é um meio-elfo, ou seja, um dos pais humano e o outro elfo, e sua mãe, Sara Aquai, é humana, e, antes do herói nascer, ela era casada com um humano também, Ângelo Aquai. A decepção de Ângelo foi tão grande quando viu que a criança não era seu filho, que expulsou sua esposa de casa, junto com o recém-nascido. Para sobreviverem, Sara, que era jovem e muito bonita, foi trabalhar no bordel da cidade vizinha da qual moravam, mas como costureira, trabalho que se mostrou muito lucrativo, pois diversas vezes os vestidos “se rasgavam” no decote e na saia. Logo, Lyem crescera cercado de mulheres bonitas e fogosas, e ele aprendeu muito cedo a amá-las. Todas sempre foram muito gentis com o garoto, que em alguns lugares de Arton, podia ser maltratado, por não ser humano, mas não as colegas de trabalho de sua mãe, elas o adoravam, e ele a elas.
Quando atingiu a puberdade, a mulher mais linda dali o transformou em homem, e um dos melhores que ela já havia “visto”. Começou a trabalhar no bar do bordel, mas essa não era a vida que ele queria, apesar de estar sempre cercado de mulheres bonitas e festas todas as noites. Ele sonhava em viajar, conhecer outras mulheres, outras festas, outras cidades, e quem sabe um dia, se casar. Então, na noite em que Lyem completara dezenove anos, um jovem, de mais ou menos vinte e cinco verões entrara no bordel. Ele se chamava Saydiss Lisild, com longas vestes coloridas e um chapéu de três pontas, um florete pendurado no quadril do lado da perna esquerda, aos berros, pedindo a melhor bebida e a melhor mulher. O aventureiro tinha um brilho no olhar, que chamara a atenção do meio-elfo, e as histórias que Saydiss contava. De suas aventuras, batalhas contra exércitos de orcs e outras criaturas que pareciam horrorosas e muito más, e as lindas mulheres salvas por ele, fez Lyem Aquai decidir o que fazer da vida, iria se tornar um swashbuckler, o típico herói charmoso, galante, valente e corajoso, matando os monstros maus e salvando as princesas em apuros.
Na outra manhã, o meio-elfo já havia comprado um florete bem simples, com o dinheiro que ganhara no bar, e começou a treinar arduamente. E o jovem percebeu que tinha talento, em algumas semanas, um pequeno grupo de saqueadores kobolds atacou o vilarejo, e Lyem exterminou todos sem nem mesmo levar um arranhão. Todos ficaram muito agradecidos, e sua mãe, bem como as amigas dela, ficou muito orgulhosa, e depois de dois meses, ela o dera permissão para seguir viagem e fazer seu nome entre os grandes heróis de Arton. Sara já havia preparado roupas e mantimentos para o filho, e todas as mulheres do bordel choraram no dia em que ele partiu, pois perdiam um bom amigo e um ótimo amante.
Os primeiros meses de peregrinação foram exaustivos, ele não salvara nenhuma princesa nem matara nenhum monstro. Apenas andava, com as pernas já cansadas, e passava fome e frio a noite. Mas sua sorte mudara no dia em que avistou um pequeno templo no meio da floresta, perto da cidade de Malpetrim. Era uma construção de porte médio, com dois andares, as paredes todas muito brancas por fora, com pequenas janelas na parte de cima, uma porta grande na entrada, entre dois pilares que sustentavam uma sacada. Era um templo de Edela, a deusa menor do amor. Lyem foi rapidamente para o templo, pois sentia muita fome, já estava até com as feições mais magras, e também queria tomar banho.
Quando ele entrou no grande salão que dava para a porta de frente, já não sentia mais fome nem nenhuma espécie de medo ou aflição, e viu que por dentro, o templo era muito belo e aconchegante, com um grande lustre redondo no teto, com algumas velas já acesas apesar de ser dia ainda. Lyem viu estantes com livros e alguns altares ali em volta e uma grande escada no centro do salão, que levava para o segundo andar. Percebendo que havia chegado alguém em seu templo, uma clériga, muito bela e serena, desceu a escadaria para ir de encontro ao visitante. Lyem ficou encantado com a presença daquela jovem mulher, que lhe passava muita paz e tranqüilidade.
-Olá. Bom dia. Eu me chamo Isa, sou a clériga que cuida deste templo. - disse a mulher, olhando com um pequeno sorriso aconchegante em seu rosto. Ela tinha os cabelos curtos, loiros, na altura dos ombros, e muito bem cuidados e com um aroma doce que podia ser sentido à distancia. O jovem aventureiro fez uma reverência graciosa, segurando a mão esquerda da dama.
-É uma grande honra ser recebido por uma mulher tão bela e gentil. Edela deve estar olhando por mim neste momento. - respondeu beijando a costa da pequena mão, que parecia seda ao toque. - Eu me chamo Lyem Aquai, estou andando por toda Arton para socorrer os mais fracos e os que clamam minha ajuda. – completou, levantando o corpo e estufando o peito com orgulho.
Isa o levou para um aposento e foi preparar um banho para o jovem, sentindo-se fascinada por aquele charmoso rapaz, muito educado e galante. Após um banho quente e uma janta que Lyem nunca comera igual, o meio-elfo começou a conversar com a clériga sobre os mais diversos assuntos, e com todos os elogios e mesuras da parte do swashbuckler, sem querer Isa acabou se apaixonando pelo forasteiro. Mas ele era muito novo e queria vagar por toda Arton ainda. Porém, ela tinha um sentimento muito forte, talvez por causa de sua Deusa, mas isso já não importava, estava apaixonada e queria se casar, e seguir o noivo para onde ele fosse.
-Mas o templo não pode ficar aqui abandonado. - dizia o aventureiro meio apavorado com a idéia de se casar tão novo, mas era em vão. Nem o templo importava mais para a clériga, somente seu amado. O herói foi obrigado a fazer uma coisa que nunca se imaginou fazendo, ele teria que magoá-la. Quando chegou a hora do aventureiro partir, ele a chamou junto à porta, ela já estava animada, pensando que o amado tinha aceitado a idéia de se casar e levá-la com ele quando...
-Isa, eu te agradeço muito por ter cuidado de mim esses dias que passei aqui, mas isso não foi o suficiente para me fazer gostar de você, e a sua insistência em querer se casar comigo só me fez ODIÁ-LA! Humpf, onde já se viu? Eu, Lyem Aquai, casar-me! - mentiu o meio-elfo, com falso ódio no olhar e um tom ríspido na voz. Os lindos olhos azuis de Isa se encheram de água, a face se enrugou em menos de um segundo as lagrimas desabaram abundantes de seus olhos, aquela visão só deixou Aquai mais triste por dentro, mas ele precisava ir embora. A clériga correu para dentro do templo, e lá de fora foi possível ouvir o barulho de suas sandálias pisarem forte na escada. O swashbuckler tentou convencer a si mesmo enquanto ia embora, “Foi melhor assim” pensava ele, mas o remorso não sumia.
Lyem Aquai não tinha dado nem quatro passos fora do templo e ouvira uma batida de portas se abrindo com tanta força que colidiram nas paredes onde estavam fixadas. Ele olhou rapidamente para onde vinha o barulho. Eram as portas da sacada, e lá em cima estava Isa, segurando uma adaga na mão e com cara de raiva e olhos inchados pelo choro.
-Se for para passar a vida longe de você meu amor, prefiro a morte! - gritou Isa, afundando a adaga contra o coração, e apagou, caindo da sacada, ao lado de seu amado, que já estava quase dentro do templo, correndo para tentar impedi-la. Quando caiu já sem vida aos pés de Aquai, este se ajoelhou e soltou um grito tão alto que as janelas do templo tremeram. Lyem pensou em pegar a adaga e se matar ali mesmo, junto com a clériga, mas uma luz vermelho vinho brilhou forte dentro do templo, e o choroso aventureiro a ouviu claramente chamando-o, com uma voz feminina muito doce e suave, mas com um tom de repreensão. E o meio-elfo foi ao seu encontro.
Ao entrar no templo, ainda aos prantos, o swashbuckler se deparou com uma linda mulher de cabelos longos e vermelhos como sangue, usando um vestido de mesma cor, que cobria seus pés, balançando suavemente, como se uma brisa de verão passasse sobre ele. O rosto da mulher, que Lyem descobriu na mesma hora em que a vira que ela era Edela, a Deusa menor do amor, trazia uma expressão de choro, mas continuava sendo a mulher mais linda que Lyem já vira. Quando o meio-elfo se aproximou o suficiente, ela lhe dirigiu a palavra, com uma voz tão suave e aconchegante que deixou o herói meio sonolento.
-Jovem aventureiro, hoje uma mulher morrera por amor. Porém, esta fora uma morte desnecessária, pois você a magoou por motivos egoístas. Eu sei que a culpa não foi tua por ela ter se apaixonado por ti. Você estava apenas sendo educado e cortês, sendo você mesmo, mas ela era muito nova e, sendo minha devota, seus sentimentos dispertavam com mais facilidade e mais fervor. - disse a deusa, já com lagrimas escorrendo sua linda face, o que cortou mais ainda o coração do meio-elfo. - E eu não posso deixar isso passar em branco. - Edela agora erguera seu tom de voz, passando de calma e aconchegante para forte e assustadora. - Você será vítima da minha pior maldição – gritou a Deusa, segurando com uma mão a face do rapaz, seu vestido e seus cabelos agora ondeavam como se a brisa que os embalava tivesse se transformado em um furacão. - Toda mulher, independente de raça e idade, que ver sua face, se apaixonara perdidamente por ti, Lyem Aquai! - por entre os dedos da Deusa, Lyem percebeu que em seus olhos havia ódio e arrependimento, e nesse instante, o jovem swashbuckler sentiu uma pontada no coração, mas não era dor, era desespero.
Parecia que a deusa segurara o rosto de Aquai por horas, e quando finalmente o soltou, ele percebera que ela não estava mais lá, e a sensação de calma e conforto que o templo emitia também havia ido embora. Lyem Aquai não sabe por quanto tempo ficou ali no chão, agachado, chorando e pensando no que fazer da vida. Quando finalmente levantou, ele deu umas batidinhas na roupa para limpar a pouca sujeira de suas vestes, e foi comprar uma máscara.
E é por este motivo que Lyem não pode se dar ao luxo de ficar bêbado, de deixar seus reflexos ficarem imprecisos e lerdos, que sua percepção ficasse fraca, para que não corresse o risco de perder sua máscara no meio de muitas mulheres. Ter varias damas mortalmente apaixonadas correndo e se jogando aos seus pés, apesar de ser uma idéia bem excitante, não ajudaria em nada um aventureiro, que já tem de salvar sua pele e ajudar seus parceiros a salvarem as suas. Isso somente traria muita dor de cabeça e motivos para passar o resto da vida se escondendo, e definitivamente Lyem Aquai não nasceu para se esconder. Nasceu para ser um dos maiores heróis que este mundo já viu.
Mas o principal motivo para manter a máscara bem segura frente a sua face são as gêmeas Katrina e Katarina. O coração de ambas pertence ao meio-elfo, mas elas nunca viram sua face descoberta. Estão apaixonadas pelo mesmo motivo que seduziu Isa. O jovem as conquistou com seu charme natural para com as mulheres, com seu carisma, seu jeito galante e encantador, e ele com certeza não queria perder esse sentimento que elas nutrem por ele. Não queria ver mais nenhuma mulher se matando por sua causa, assim como não queria perder um sentimento verdadeiro, como o das gêmeas, para uma maldição. Portanto, ele jamais baixava sua guarda perante sua sina.
Agora com a máscara em seu devido lugar, fora acordar seus parceiros e parceiras, pois precisavam arrumar suas coisas, fazerem as compras necessárias e partirem o mais rápido possível daquela cidade, antes que Moóck voltasse e os obrigassem a morar o resto de suas vidas ali. Lyem voltou à sala onde havia dormido, pois lá ainda estavam Radagast e Achir, ambos com o peito nu, dormindo calmamente em alguns panos estendidos no chão. Lyem tentou acordar os amigos chamando-os e cutucando-os suavemente, mas parecia não estar adiantando nada. Então tentou uma tática diferente.
-PELOS DEUSES DO PANTEÃO! MOÓCK ESTA ATACANDO, CORRAM PARA SALVAREM SUAS VIDAS, E NÃO SE PREOCUPEM JOVENS DAMAS, EU AS SALVAREI! - berrou, pulando de um lado para o outro perto dos amigos. Assim consegui despertá-los.
-Ah socorro! Eu não quero morrer virgem! - Gritou Achir Snycer, com pavor na voz e na face, balançando os braços na frente do peito e se sentando em um movimento brusco. - Não que eu seja virgem ainda, há alguns anos eu conheci uma mulher...- tentou explicar o bardo, com a cara toda vermelha parecendo um tomate, quando percebera que não havia ataque nenhum, mas sua explicação foi abafada pelas risadas de Lyem e Radagast, que gargalhavam segurando a barriga, que começavam a doer, de tanto rir da confissão que acabaram de ouvir.
-Não tenha vergonha - disse o feiticeiro com um sorriso muito maroto, já se levantando para se trocar, - Eu também demorei para me tornar um “homem de verdade”, mas tudo tem seu tempo, fique calmo. - afirmou terminando de vestir seu grande robe azul, escondendo uma tatuagem estranha no seu peito, na qual ele nunca mencionava, e sempre mudava de assunto quando falavam dela. Achir, muito envergonhado, ainda mais depois destas “palavras de consolo”, também já estava de pé e vestindo sua camisa branca e o colete marrom, logo depois de ter amarrado sua bandana verde com finas listras brancas na testa, segurando os cabelos para trás para que os mesmos não caíssem em seus olhos.
-Eu NÃO sou mais virgem. - afirmou o bardo, acentuando o “não”. - eu estava tendo um pesadelo, só isso, - continuou, desviando o olhar dos rostos de seus amigos que ainda continham risinhos, apesar do bardo não ter visto o de Lyem, mais sabia que ele também achara graça.
-Bom saber que você já não é mais virgem, Achir, esta era uma duvida que não saia de minha cabeça desde que nos conhecemos. - disse, com um tom zombeteiro, Katarina, abrindo a porta e saindo, seguida de sua irmã Katrina, do quarto em que ambas dormiram. As duas haviam acordado com a gritaria dos rapazes na sala, e já estavam vestidas de armadura e robe, respectivamente. - Agora, por favor, será que podemos deixar esse importantíssimo assunto de lado e irmos comprar logo o que precisamos para ir embora o mais rápido possível daqui, não quero ter de morar aqui o resto da vida - completou Katarina, com uma voz firme e decidida, como se qualquer outra opção estivesse fora de cogitação.
-Vocês a ouviram rapazes, o que estão esperando? VAMOS! - disse o líder do grupo, com o peito estufado e uma voz tão firme como a de Katarina. Mas ninguém saiu da casa naquele momento, pois a porta havia sido aberta, e um homem de aproximadamente um metro e noventa de altura, vestindo uma grande armadura prata com detalhes vermelhos entrara na casa onde o grupo se hospedara na noite passada, impedindo a única porta que dava para a cidade lá fora. - Olá guerreiro! Muito bom dia. - disse Lyem fazendo uma grande reverência, - Trévis não esta em casa, ainda esta aproveitando a lua-de-mel, se você puder voltar ama...
- Não estou procurando o gladiador. - Disse Dimictus Bennet, interrompendo Lyem, com uma voz duas vezes mais forte e firme do que a de Lyem e Katarina juntas, e com seriedade no rosto. - Eu quero falar em particular com vocês cinco. Acompanhem-me até minha casa, por favor. - Disse ainda com a voz firme, virando as costas sem nem mesmo esperar que ninguém lhe respondesse uma palavra sequer, dando ao grupo apenas a opção de segui-lo sem contestar.
Mesmo desconfiados, o grupo seguiu o paladino pela cidade que agora já mostrava algum sinal de vida. Alguns comerciantes já abriam as lojas e colocavam a mercadoria em caixotes do lado de fora das portas. Senhoras varriam as entradas de suas casas, conversando calmamente sobre os acontecimentos recentes. Pessoas acenavam para o homem de armadura prata, mas mesmo assim, o grupo estava desconfiado. Lyem não estava fazendo as costumeiras brincadeiras com seus amigos, nem mesmo com Achir, que deixara escapar uma confissão muito interessante há poucos minutos. O único barulho que vinha de Lyem era o tilintar dos tibares em sua saca de dinheiro e a respiração calma, que batia na máscara de madeira, fazendo parecer que o jovem ofegava de cansaço, e esse silêncio preocupava seus parceiros e as gêmeas.
-Ei, eu conheço você! - disse Achir, com cara de surpresa e excitação, quebrando o desconfortável silêncio. - Você é Dimictus Bennet, o grande paladino dos Deuses, braço direito de Christopher, paladino de Khalmyr, membro do maior grupo de heróis de todos os tempos! - o bardo dissera tudo isso numa velocidade impressionante, com um tom de felicidade e respeito na voz, seus olhos brilhavam para o grande e poderoso homem a qual ele se referia, e seu estômago revirava de ansiedade e prazer toda vez que o paladino assentia em silêncio as colocações do bardo. - Então os boatos eram verdadeiros. Você realmente morreu aqui durante um ataque daquela maldita águia! - concluiu dando alguns saltinhos para frente, ficando mais perto de Dimictus.
Todos ficaram muito confusos com o que acabaram de ouvir, e mil pensamentos invadiram as cabeças dos aventureiros. “Se ele é tão forte, como que morreu por uma simples águia gigante?” pensava Lyem, já achando que o paladino não era grande coisa, enquanto as gêmeas refletiam sobre o quão forte era Moóck, que conseguiu matar aquele herói, que visivelmente era mais forte que todos ali juntos. Radagast por sua vez admirava o paladino e pensava na dor que ele sentia, por ter que morar o resto da vida na cidade, deixando os parceiros e as grandes batalhas de lado para ficar vendendo legumes ou roupas, como os outros moradores de Triunphus, como se um herói de tão alto calão fosse fazer algo desse tipo. Mas todos os pensamentos se esvaíram quando Dimictus Bennet parou de caminhar, fazendo assim com que todo o grupo ali também parasse.
-Chegamos. - disse o paladino dos deuses, apontando para uma casa bem pequena, menor que a que os aventureiros haviam passado à noite, toda feita de madeira, mas era mais bem cuidada e limpa que a anterior. - Entrem, por favor. - Dimictus abriu a pequena porta de madeira, deixando à vista o pequeno quarto, bem arrumado e limpo, estendendo a mão para dentro da casa, como um sinal de cavalheirismo, esperando que todos entrassem para logo após entrar também e fechar a porta. - Sentem-se, por favor, podem pegar aquelas cadeiras ali. - disse apontando para alguns banquinhos, que seguravam as portas de um armário velho. - E vocês duas podem se sentar na cama, não vai ter cadeiras para todos. Desculpe-me. - completou olhando para as gêmeas, o tom da voz meio culposo, mas a expressão em sua face não mudara nem mesmo um centímetro.
-Tudo bem, tudo bem. A gente já chegou onde você queria, por favor, fale logo o que quer, para nós podermos ir. Não queremos ter de morar aqui para sempre também! - Disse Lyem, com um tom ríspido na voz e demonstrando desconforto e pressa. A frase foi muito rude, mas o paladino dos deuses não ligou para ela, pois sabia que o aventureiro não estava querendo ser grosso, estava claro que era apenas ciúmes, pois a atenção de todos do grupo não pertencia a ele como de costume.
-Por favor, fique calmo, tenho uma história pra contar e um favor a lhes pedir. - disse Dimictus, acendendo um pequeno fogão e colocando um bule com água e ervas para ferver. Logo o cheiro doce de hortelã tomou conta da pequena casa. Todo o grupo agora estava calado, todos olhando fixamente para o paladino, exceto Lyem, que com os braços cruzados e cara emburrada girava a cabeça, analisando o quarto/sala/cozinha do herói. “Por que diabos ele mora em uma casa tão simples?” pensou.
-Como o jovem ali disse, - continuou Dimictus, apontando para Achir. - eu me chamo Dimictus Bennet, paladino dos Deuses, integrante do grupo de heróis de Christopher, o paladino de Khalmyr. Por um acaso do destino, fui morto pela águia gigante que os moradores daqui chamam de Moóck, e estou fadado a morar nesta cidade até morrer de velhice. - concluiu o paladino, olhando para todos à sua volta. Todos estavam sérios e quietos, olhando fascinados para Bennet. Apenas Lyem, que apesar de estar ouvindo a conversa, ainda não mirava o paladino no olho. Ficava analisando os móveis e as paredes.
-Meus parceiros tiveram que ir para Valkaria, atendendo a um pedido de Talude, Mestre Máximo da Magia. - Disse Dimictus com uma voz melancólica, mas ainda muito firme. - Nós fomos chamados para comparecermos ao pé da estátua da Deusa da humanidade, mas no mesmo dia Triunphus sofreu o ataque que resultou na minha morte, e é claro, os outros tiveram que ir sem mim.
A expressão no rosto do paladino ainda era a mesma desde que ele chamara o grupo na casa do Trévis, mas agora seus olhos estavam brilhando, graças às lagrimas que ali se aglomeraram. As gêmeas e o bardo estavam quase chorando junto com o herói, mas nem Lyem nem Radagast pareciam muito emocionados com a história.
-E ninguém neste mundo sabia de um modo de quebrar esta maldição. - continuou o paladino, se recompondo do estado de choro. -Mas os deuses não queriam que eu me afastasse de meus companheiros, e me enviaram este livro. – continuou, esticando a mão até uma prateleira que estava ao lado da cama, pegando o velho e mofado livro de capa negra. -Nas páginas deste livro existe a explicação de como realizar um poderoso ritual, que, se executado corretamente, pode quebrar qualquer maldição, não importando quem a tenha lançado e em quem. - Todos olharam perplexos para o livro, e Lyem viu nele sua única oportunidade de nunca mais usar aquela bendita máscara.
-Mas por que diabos você ta falando isso para nós? Tem tanta gente aqui nessa cidade que pode te ajudar! - Intrometeu-se Achir, ainda tentando entender o que estava acontecendo. O paladino sorriu.
-Sabia pergunta, bardo! - respondeu Dimictus olhando para a harpa que Snycer carregava. - E a resposta é muito simples. Eu vejo meu grupo refletido no de vocês. Três homens e duas mulheres, um líder chamativo e muito enérgico. Mas por favor, deixe-me terminar de explicar o que eu estava dizendo.
-Talude convocou nosso serviço para algo muito importante, algo nunca feito por ninguém, nem mesmo os maiores heróis de Arton. - disse com modéstia, afinal ele próprio fazia parte de um dos grupos de heróis mais fortes da atualidade. - Minha parceira Isyt me escreveu algumas cartas, e me explicou qual foi a razão do grande mestre da magia ter nos chamado. Ah, o chá esta pronto.
Dimictus levantou e foi ao pequeno fogão, apagou as chamas,jogando água na lenha, e serviu chá para todos, Lyem já estava mais calmo e não sentia mais ciúmes do paladino. Após dar um grande gole Dimictus retomou a conversa.
-Bom, como eu estava dizendo, Isyt me manteve informado todo esse tempo sobre o que estava acontecendo em Valkaria, e o motivo pelo qual eles estão lá é a terrível tempestade que vem devastando nosso mundo, a Tormenta!
Todos já ouviram falar dessa tempestade, que trazia todos os tipos de demônios e devastava tudo que estava a baixo dela, e que toda tentativa de impedir seu avanço, ou descobrir outros locais onde ela surgiria nunca dava certo.
-Talude está ensinando tudo o que já foi descoberto sobre os demônios da tormenta e as propriedades da chuva para meus parceiros, a intenção dele é montar um grupo de estudo e extermínio, e minha presença na Grande Academia Arcana é indispensável! E eu já perdi quatro meses nesta cidade!
PEIN!
Uma panela caíra no chão, assustando as gêmeas e o bardo. Todos olharam simultaneamente em direção da panela caída, e perceberam que havia um pequeno macaco, de uns quarenta centímetros, com uma estranha mecha de cabelo branco no alto da cabeça. O bicho estava comendo um pedaço de maçã. Ele havia derrubado a panela e agora olhava para todos no quarto, muito sereno. Depois do susto, ninguém mais deu atenção ao pequeno símio, apenas Katarina, paladina de Tanna-Toh, manteve sua atenção no macaquinho. Todos deram um gole no chá quase que simultaneamente e voltaram a olhar o livro, logo Dimictus tornou a falar.
-Somente os deuses sabem quanto tempo vai demorar até os quatro ingredientes serem encontrados e trazidos até aqui, portanto não vou mais perder tempo! - disse o paladino, depositando sua xícara na cama e levantando-se. - Para realizar o ritual eu irei precisar de um frasco de uma poção amplificadora de poder arcano; o artefato mágico conhecido como Arcanesfera; a Estatueta de Wynna, que foi construída por seus primeiros seguidores, no formato de um tripé; e um desejo! Estes são os quatro itens necessários para se realizar o ritual. O Ritual do Conceder Divino! - Todos ficaram boquiabertos, até Katarina esqueceu o macaco e olhou incrédula para o paladino, que estava extasiado nesse momento.
-O primeiro item que é citado, eu sei onde podem encontrá-lo. - continuou Dimictus, percebendo que ninguém havia entendido nenhuma palavra que ele disse após ter se levantado. - Há algum tempo, meu grupo e eu visitamos a casa de um grande alquimista, à procura de algumas poções, mas isso não importa agora. Tenho certeza que ele poderá ajudar vocês. Mas receio informar que os outros itens eu não faço idéia de onde estão. - A tristeza que o herói sentia era visível, e pelo modo com que falava com os estranhos a sua frente, ele tinha certeza que o grupo iria ajudá-lo.
E então Lyem se levantou.