domingo, 11 de julho de 2010

Post atrasado, mas com novidade!

Hello there!
Ai ai, como é bom estar de volta à minha casa. Amo esse blog, mesmo ele quase não sendo visitado nem comentado.
Falando nisso, quero agradecer a Raaid... minha unica amiga no Skoob que conversa comigo, e que veio dar uma passeio aqui. (Só esqueceu de deixar um comentário pra mim né Raaid?? po hehe)
Dessa vez não vim postar mais um capítulo do meu ex-livro... na verdade, acho que vou parar de publicá-lo aqui... afinal, desde que eu comecei a postá-lo, meus comentários caíram até se extinguirem.
Agora começarei a postar textos menores, com começo-meio-fim de uma vez. Chega de enrolação.
O conto de hoje também não é muito novo, deve ter um pouco mais de um ano, mas que eu gosto bastante (e o João Paulo Moreou De Bode também) porque ele foi campeão de um concurso cultural de uma revista digital Nível Épico (abração Tiago Lobo!), que me rendeu um exemplar do livro Vampiro: o Réquiem, da editora Devir.
Com toda essa chuva estrondosa de livros contando histórias de vampiros, na maioria das vezes que não se parecem em NADA com a lenda dos vampiros, esse meu texto carrega consigo essa essência verdadeira, com as criaturas da noite sendo aquilo que elas realmente são.
Vou postar a obra na íntegra, porque ela é bem curtinha.
Espero que gostem, e não se esqueçam de me deixar comentários!!!!!!
Beijos

Daniel Lunas

Um réquiem a dois

Em quase cem anos vivendo, ou não-vivendo, como um vampiro, Bruce McArtus nunca se deu ao trabalho de esperar sentado na cama de sua presa enquanto ela tomava banho. Aquela era a primeira vez. Se bem que a bela moça que cantava “Join Me in Death” (Junte-se a mim na Morte), da banda finlandesa HIM, não seria apenas o alimento do vampiro esta noite.

“Que música mais irônica de se cantar hoje, minha querida!” pensou o rapaz, que de rapaz não tinha nada. Bruce fora Abraçado por um Deva, o clã de vampiros conhecidos por suas poderosas artes de sedução, há noventa e nove anos e onze meses. Naquela noite, quando estaria prestes a completar cem anos de imortalidade, McArtus iria transformar Alice em uma vampira. Em uma Deva, assim como ele.

Tomar este tipo de decisão, na cidade onde Bruce mora, não é algo simples, ainda mais para um membro dos Invictus, coalizão que preza a ordem e a lei seguidas à risca. Obter autorização para gerar um novo morto-vivo é algo que só se consegue com anos de bajulações e agrados aos anciões certos. Mas Bruce sempre ansiou por poder e, nos últimos anos, ele havia se tornado um desses vampiros a quem os mais novos procuram para conseguir ajuda. Bruce McArtus é o Priscus dos Súcubus, ou seja, a maior autoridade Deva da região.

O cargo pertencia a seu mestre, Philip McArtus, mas o ancião foi desafiado para uma Monomaquia, duelo formal para ser decidido um assunto no qual não é possível um acordo formal, por sua cria. Foi desafiado e vencido. Em poucos minutos, Bruce fez o antigo Priscus, que era mais velho e, supostamente, mais poderoso desistir do cargo. Nenhum dos dois perdeu uma gota de Vitae sequer. A luta foi decidida pela majestosa força de vontade de ambos os imortais.

A coalizão Invictus dificilmente contribui para que vampiros novos como Bruce ascendam no poder, o qual, na grande maioria das vezes, fica somente com os anciões. Porém, nas raras vezes que outro imortal mais novo tem a capacidade e a coragem de desafiar seus superiores, as rédeas da influência trocam de mãos, ou presas, se assim preferirem. E Bruce as tomou para si.

Somando-se isso ao seu aniversário de cem anos como Súcubu, nome feminino de um demônio da sedução, mas que é usado como apelido para os membros do clã Deva de ambos os sexos, Bruce McArtus decidiu gerar sua primeira, e talvez única cria. Conseguir permissão para seus superiores não foi difícil. Um neófito que progride no Invictus com tamanha velocidade com certeza merece respeito. Um pouco, pelo menos.

Foi aí então que Alice apareceu na não-vida dele. Em uma noite normal como todas as outras, Bruce caminhava pelas ruas indo até sua casa noturna favorita, que por uma incrível coincidência ele próprio era o dono, quando passou na frente do Fórum. Lá ele viu entrando a bela moça, com um pequeno terno preto e uma saia, de mesma cor, que chegava até os joelhos. Usava uma sandália de salto agulha. Andava graciosamente. Tinha o cabelo preso, num penteado conservador, que deixava o magnífico pescoço à mostra. Bruce respirou fundo, sentindo o perfume da dama. Era, como todo o conjunto, maravilhoso. O imortal desviou-se de seu caminho habitual e seguiu a mulher.

Naquela noite, a qual McArtus julgava ser normal, ele descobriu que a moça que lhe chamou a atenção era, além de esteticamente perfeita, muito inteligente. Alice era advogada e estava defendendo um rapaz acusado de assassinato, sendo o veredicto final inocente. A advogada tinha muita segurança no seu tom de voz. Segurança e persuasão, duas qualidades que Bruce idolatrava. Nem nos altos anciões de sua coalizão McArtus percebia tamanho poder e sedução no tom de voz. Naquela noite, Bruce escolheu sua cria.

Quando a audiência acabou o vampiro se levantou batendo palmas e olhando fixamente para a advogada que lhe chamara tanta atenção. Não havia quase ninguém assistindo a audiência, apenas uns três membros da família do morto e mais uns quatro da do assassino inocentado. Logo, os aplausos chamaram a atenção de todos, incluindo Alice. Mas as palmas nem se comparavam com a atenção que a própria presença do vampiro chamava. Bruce era, no mínimo, muito bonito. Cabelos curtos penteados graciosamente para trás. Queixo largo e barba por fazer. Grandes olhos azuis penetrantes e fundos como uma piscina. E uma aura de confiança parecia emanar do morto-vivo. Seduzir Alice foi fácil.

Ainda naquela noite, era impressionante o que os poderes vampíricos são capazes de fazer, Bruce conseguiu convencer a advogada a jantar com ele para comemorarem o trabalho bem sucedido da moça. Conseguir o telefone e um caloroso beijo de “te vejo amanhã então” foi ainda mais fácil. Caloroso para os mortais. Para ele soava como rotina. Todas suas presas faziam o mesmo. Mas isso não o desanimou. Sabia que era irresistível, não havia nada que pudesse fazer quanto a isso.

Na noite seguinte levou sua companheira para a própria casa noturna, sem que ela soubesse que estava com o dono do estabelecimento. Bruce havia feito desses encontros seu passatempo. Porém, já vinha dançando a Danse Macabre sozinho há muito tempo. A valsa infinita da imortalidade lhe exigia uma parceira, e, aos poucos, Bruce ia ensinando Alice a bailar seguindo seus passos macabros e depravados. McArtus saciou os desejos sexuais da mortal naquela noite. Ainda tinha uma esperança de reavivar estes sentimentos em si próprio, mas, mais uma vez, não obteve nenhum êxito.

Bruce só não transformou a advogada em vampiro naquela noite porque ainda achava que tinha que preparar a mente dela com um pouco das informações sobrenaturais que a transformação traria a tona. Convidou-a então para um jantar mais formal, no melhor, maior e mais caro restaurante da cidade. Como era de se esperar, Alice mal coube dentro de si, tamanha era a excitação e o lisonjeio. “Apaixonada” pensou Bruce, “Melhor que seja assim. Um coração cego de amor obstrui também as razões da mente.”

McArtus foi buscar sua convidada em casa. Estava dirigindo sua BMW C2 preta, um daqueles modelos sports que as portas abrem para cima . Estacionou na frente da casa da advogada, em um daqueles residenciais dos bairros conservadores da cidade, onde todas as casas são iguais, só mudam os enfeites dos jardins e as cores das paredes. Desceu do carro e tocou a campainha. “Já vou!” veio a voz de dentro da casa. E então a porta se abriu. O coração de Bruce iria acelerar se ainda batesse. Nem em mais de cem anos de existência, tanto mortal como imortal, o vampiro havia visto uma mulher tão bela. Alice já era perfeita aos olhos de McArtus, mas naquela noite ela era, com toda certeza, uma Súcubu. Usava um longo vestido preto, que se não fosse pelo sapato de salto alto, também preto, arrastaria no chão. O vestido tinha pequenos detalhes bordados em vermelho perto do decote e da cintura. Era frente única, deixando as costas de Alice descobertas. E seu pescoço também. Uma maquiagem, bem sutil, acentuava os belos traços de seu rosto. Estava magnífica.

-Boa noite. – cumprimentou Bruce, a beijando.

-Ótima noite! – respondeu a advogada, depois do beijo. McArtus abriu a porta para ela. O veículo parecia um morcego gigante, cromado. -Adorei o seu carro. – disse, sorridente, enquanto o rapaz sentava atrás do volante e ligava a ignição.

-O adoro também. Me sinto como se fosse o Batman quando ando nisso. – risos.

-É uma honra para mim então, sair com Bruce Wayne. – tornou a moça, beijando a face pálida e fria do morto-vivo. Ambos gargalhavam.

Tudo ocorrera às mil maravilhas no jantar. Bruce bombardeava Alice com tantas perguntas que a moça nem percebeu que seu companheiro não comia nem bebia nada. Naquela noite todas as respostas que McArtus precisava foram cedidas. Se Alice ainda era muito ligada a sua família. Se ela participava de algum clube ou movimento social na parte da manhã ou de tarde. O que ela faria se fosse imortal. Bruce ficou satisfeitíssimo, percebendo que todas as respostas eram a seu favor.

O casal ficou aproximadamente uma hora no restaurante, conversando. Alice quase não comeu nada, mas tomou umas taças de vinho a mais. Se o Deva quisesse poderia conseguir qualquer resposta sem usar sues poderes vampíricos. Mas não era mais necessário. Bruce pagou a conta, e foi levando sua acompanhante até o carro. Passou seu braço esquerdo pelas costas de Alice, segurando-a pela cintura. Conversavam quase encostando os narizes um no outro.

Quando se aproximaram da BMW, o vampiro sentiu Alice apertar-se contra seu peito. Um rapaz, vestindo trapos e uma touca, que mais parecia um gato atropelado, saiu de trás de uma cabine telefônica, segurando uma arma. Bruce podia sentir o coração da advogada batendo em seu peito, lembrando por um momento como era essa sensação.

-Eu só vou querer a bolsa da madame e a sua carteira! Não dificultem as coisas para ninguém. Não saí de casa querendo virar um assassino. – o ladrão parecia ter comido lixo em avançado estado de decomposição, julgando pelas condições de seus dentes e hálito.

-Um assassino não se difere muito de um ladrão. Ambos roubam. Um objetos, o outro vidas. – Bruce manteve o tom calmo na voz. Se estivesse sozinho, o pobre ladrão já estaria estirado no chão, separado de sua cabeça. Mas Alice não podia ver esta cena. Não agora. Então McArtus se limitou a manipular a mente do infeliz que tentava assaltá-lo. – Aqui, pegue este dinheiro. – Bruce retirou duas notas de cinqüenta da carteira. – Pegue este dinheiro e faça o que quiser com ele. Se aceita uma sugestão, o bar da esquina ali da frente é ótimo. – Disse apontando para um bar/restaurante.

Alice já estava surpresa pelo fato de estar sendo assaltada numa noite perfeita como aquela. Mas seu assombro foi ainda maior quando percebeu que o ladrão realmente fez o que Bruce lhe dissera. Agradeceu o dinheiro, pediu desculpas, guardou a arma e foi caminhando normalmente para o local indicado.

-Estou começando e me perguntar se você não é mesmo o Batman.

-Não querida. Infelizmente não. – Riu o morto-vivo, enquanto entravam no Batmóvel, ou melhor, BMW.

E agora Bruce estava sentado na cama de Alice, enquanto ela terminava de tomar banho. O tilintar do registro fez o vampiro despertar de suas recordações. A água parou de cair e o box se abriu. A garota ainda cantarolava a mesma música enquanto se secava, dentro do banheiro.

Bruce sentiu os cabelos da nuca arrepiarem-se, o que não acontecia há muito tempo, quando a porta do banheiro se abriu liberando uma grande massa de vapor e a advogada saiu enrolada na toalha. A moça exalava um cheiro forte de sabão e excitação. Bruce se endireitou na cama.

Alice parou, em pé na frente do rapaz, e despiu-se completamente. Bruce quase amaldiçoou-se por não possuir mais os sentimentos humanos, mas os “prós” compensavam. Começou a desabotoar a camisa, enquanto a advogada retirava-lhe os sapatos. “Malditas roupas! Por que eu já não as tinha tirado?” pensou por um instante, mas no segundo seguinte já estava nu. Ambos abraçavam-se e beijavam-se, deitados na cama, como um único ser. Alice estava extasiada.

-“Won’t you die tonight for love?” (Você não morreria esta noite por amor?) – o morto-vivo cantou ao pé do ouvido de Alice, o refrão de música que ela cantara enquanto tomava banho.

-Se fosse contigo, eu morreria. – a garota respondeu, em meio a gemidos discretos e a respiração ofegante.

-Pois não se preocupe minha querida. Para o amor, não há morte. – as presas de Bruce cresceram, sem alterar a beleza de sua fisionomia. O vampiro as enterrou no longo pescoço de Alice. A garota agradeceu por estar deitada, pois todos os músculos de seu corpo começaram a tremer, em resposta a torrente de prazer que Bruce injetava em seu corpo, sem perceber, que na verdade, ele sugava. Sugava sua vida, através da sua artéria. Mas, por Deus, aquilo era a melhor coisa do mundo.

O orgasmo, comparado com aquilo que McArtus estava fazendo, seja lá o que ele estivesse fazendo, não passava de um simples grão de areia perto da imensidão da Terra. Coração acelerado. Pulmões a todo vapor. Excitação infinita. Porém, tudo começou a acabar. Os batimentos cardíacos foram ficando preguiçosos e lentos. O pulmão não puxava mais ar suficiente. Mas a excitação continuou. Mas o medo juntou-se a ela. E depois o desespero.

A visão de Alice começou a nublar e escurecer. Percebeu que estava morrendo, mas isso também a excitava. Não havia nada em Bruce que não excitava. E em meio a este caleidoscópio de emoções, o mundo acabou. A vida acabou. E uma gota de não-vida pingou em sua língua. O gosto férreo e o cheiro forte revelavam que era sangue. A não-vida só depende do sangue, nada mais. E a gota se transformou um oceano. Uma imensidão de vitae invadiu os órgãos mortos de Alice e sua visão voltou, vermelha como o liquido que a preenchia.

O pulso de Bruce estava em sua boca, cortado, despejando para dentro dela a imortalidade. E então ele puxou o braço, desvencilhando-se de sua cria. Um círculo vermelho emoldurava os lábios da vampira. Bruce os beijou. Alice percebeu que estava viva, mas ao mesmo tempo não estava. Sentia-se vazia, como se estivesse tetraplégica, mas ainda podia se mover normalmente. A visão voltou à coloração normal, mas a sede não foi embora. Nunca iria.

-Bem vinda, Alice McArtus, à Danse Macabre. Está com sede, não está? Venha, vou te ensinar os primeiros passos desta dança infinita. Vamos visitar aquele assaltantezinho lá no bar.

Vestiram-se e saíram noite a fora, embalados pelo réquiem da imortalidade.