quarta-feira, 20 de maio de 2009

Conceder Divino - 3ª parte

Mais um mês se passou. Caramba, como o tempo voa.
Este post está meio atrasado, mas é porque eu havia prometido que só postaria o terceiro capítulo depois que uma amiga minha lesse o segundo. E ela demorou um pouquinho hehe =P.
MAS, here I am.
Antes eu avisava no meu msn quando eu atualizava meu blog... e ficava cobrando comentários das pessoas que eu sabia que o haviam lido. Essa vai ser a última vez. A partir do mês que vem, não vou avisar nada, vou atualizar e esperar os comentários de quem vem aqui por vontade própria, ver como andam as coisas. Espero que não me decepcione :P
Eu estava lendo o capítulo que vou postar agora esses dias atrás. Nossa, que saudade que me deu de escrever esse livro. As personagens me cativaram de um jeito muito singular. Não sei se porque foram minhas primeira criações, ou se viajamos juntos para tão longe, mas eu me apaixonei por elas, e fico meio triste de não ter chegado até o fim de tudo.

Outro fato especial, que marcou o dia de hoje (além de minha amiga ter lido o 2º cap.), eu tranqui minha faculdade! NOSSA QUE MARAVILHA! Eu estava cansado de tudo aquilo, agora vou tirar meses de descanso. E já estabeleci duas metas para mim, que vou cumprir a todo custo.
1ª: Terminar o livro que estou escrevendo atualmente.
2ª: perder 10 quilos XD

É isso... carry on, e boa leitura a todos!

Capítulo 3 - Partida para Malpetrim

-Dê-me aqui este livro. - disse Aquai estendendo a mão, e com uma confiança na voz digna de um deus. - Será uma honra para nosso humilde grupo ajudar um herói como o senhor. Partiremos assim que nos disser onde podemos encontrar esse bendito alquimista. - A idéia de usar o ritual para quebrar a própria maldição não vagava mais na mente de Lyem, ele não podia recusar um pedido de ajuda, ainda mais um vindo de uma pessoa tão importante quanto a que estava ali na sua frente.

Havia um grande sorriso na face de Dimictus, que prontamente passou o velho livro para Lyem, que por sua vez o passou para Katrina. - Aqui querida. Sua missão será cuidar do livro, ele não poderia estar em melhores mãos. - e piscou por trás da máscara, enquanto a clériga corava. Todos agora estavam de pé. Apenas o macaquinho se mantinha imóvel, olhando serenamente aquela cena.

-O velho se chama Loonmos, e mora sozinho em uma mansão que fica perto da cidade de Malpetrim. - Dimictus estendeu a mão para o líder que se postava em sua frente. - Um pouco antes de chegar a cidade já será possível avistar a casa dele. - Metal encontrou pano, em um aperto tão forte que seria capaz de destruir um dragão, mas se contentou com um simples balançar. - Podem deixar as xícaras em qualquer lugar. Venham, eu acompanho vocês até os portões da cidade. - Todos foram para fora, mas Katarina ainda deu uma ultima olhada com o canto do olho para o pequeno símio, que os acompanhava com a cabeça enquanto eles andavam.

Dimictus não estava mais sério como de manhã quando foi buscar os aventureiros na casa do gladiador, agora ele cumprimentava todas as pessoas que conseguia, e exibia um largo sorriso. O mesmo podia se falar de seus cinco contratados, que foram para Triunphus assistir um casamento/duelo e agora estavam empregados, nenhuma recompensa foi mencionada, mas o frio na barriga e a excitação já valiam o trabalho. A ansiedade deixava os portões cada vez mais longe na visão de Dimictus, mas enfim, chegaram.

- Desejo-lhes sorte, meus amigos. - Disse o paladino, dando uma batidinha no ombro de Radagast, por cima de seu pesado robe marrom claro.

- Muito obrigado, mas não precisamos de sorte! - Disse Lyem, com confiança. - Tudo o que precisamos já esta conosco. - disse apontando seus companheiros, que também estufaram os peitos orgulhosos.

Nada mais foi dito. Apenas acenos desfecharam o encontro, e agora a esperança quase não cabia dentro do peito de Dimictus Bennet. Ele colocara em ação o plano para finalmente sair de Triunphus, e a possibilidade de trabalhar novamente ao lado de seus companheiros quase o fez pular de alegria quando ele não mais conseguiu ver o grupo de aventureiros que se prontificou em ajuda-lo. Agora só restava esperar, e pelos deuses, como seria difícil.

“POR TODOS OS DEUSES DO PANTEÃO!” gritou Achir Snycer quando percebeu que o paladino não estava mais à vista, “vocês viram quem pediu a nossa ajuda? Para nós!!?” ele repetia a cada passo, sem disfarçar a emoção no grande sorriso estampado na cara. Todos estavam animados, mas não saiam pulando como quando uma criança ganha um brinquedo novo.

- Estou estranhando vocês hoje pessoal. - Disse Lyem, com um pequeno sorriso escondido atrás da máscara. - Todos sempre me repreendiam quando eu aceitava compromissos sem consultar ninguém. Esse tal de “Ridikulus” mexeu mesmo com vocês ein?

- É DIMICTUS! - ralhou Achir aos berros. - É claro que eu estou feliz, ele fez parte do único grupo que entrou em uma área de tormenta e saiu sem nenhuma baixa! Eles são quase deuses! - o bardo estava vermelho de tanto gritar, algumas veias saltavam de sua testa, todos riam do amigo, que logo percebeu o tom de zombaria de Lyem e seguiu viagem rindo também.

- Mas vem cá gente, Malpetrim é do outro lado do continente! - disse Katrina, falando pela primeira vez depois que saíram da cidade. Ela conhecia muito bem a geografia do Reinado, pois já estudara a geografia de Arton várias vezes em sua cidade natal. - Como vamos fazer para chegarmos lá?

- Andando minha querida! - Respondeu o líder prontamente, segurando na mão da clériga.

- Mas Dimictus está com pressa, se formos andando vamos demorar semanas!

- Oh, tens razão querida, desculpe-me minha falta de atenção! - Disse Lyem ajoelhando-se diante de Katrina e dando um duro beijo de madeira na costa de sua mão.

- É Lyem, eu acho que posso nos transportar por um dia inteiro, assim ganharemos bastante tempo. - Entrometeu-se Radagast.

- Tem razão, precisamos tomar medidas drásticas, se quisermos chegar o mais rápido possível na casa do alquimista.

Mal Lyem terminara a frase, Radagast havia fechado os olhos, estendendo a mão direita para frente, mirando o chão. Um frio sobrenatural começara a rondar os aventureiros, e da mão estendida brilhava uma forte luz azul clara. Katrina e Achir abraçaram os próprios braços para se aquecerem. Um vento frio cercou-os, eriçando os pelos da nuca e dos braços. Os cabelos longos das gêmeas, do bardo e de Lyem meneavam seguindo o caminho da gélida brisa. Pequenas nuvens de vapor surgiam a cada expiração. No chão bem à frente deles o ar começara a congelar, criando uma grande plataforma plana de gelo, que flutuava a alguns centímetros da grama, que tinha uma pequena camada de orvalho congelado sobre ela. Radagast abriu os olhos, e indicou o transporte a seus parceiros. Todos subiram, Lyem deu a mão para Katrina, que estava segurando o livro negro e quase perdera o equilíbrio.

Radagast Tasir não é um mago. Ele não precisa de grimórios contendo as magias que gostaria de invocar, muito pelo contrario, nunca entendera os livros, a magia, para ele, fluía naturalmente, como respirar ou fazer a digestão, não era necessário nenhuma palavra, nenhum gesto específico, para Radagast só era preciso querer. Radagast Tasir é um feiticeiro, e por sinal era apaixonado por gelo. Ele domina todos os elementos conhecidos da magia, Fogo, Terra, Trevas, Água, Ar e Luz. Ele podia invocar qualquer um deles, mas a fusão de Ar e Água era o seu favorito.

As pouquíssimas vezes que viajaram com a ajuda do feiticeiro sempre foram emocionantes e, de certa forma, perturbadoras. Aquela maldita plataforma se locomovia muito rápido! Lyem e Achir adoravam, mas as gêmeas nem abriam a boca, chegando até a segurarem a respiração por alguns segundos. Mas havia um pequeno empecilho, manter o transporte por horas deixava Radagast muito cansado, a ponto de mal conseguir ficar em pé. Sempre que a viagem cessava, o feiticeiro precisava dormir quase um dia inteiro. Mas a proporção desta viagem era compensadora, a distância que eles percorreriam em três dias a pé, na locomotiva de gelo do feiticeiro eles faziam em apenas um, e todos estavam com pressa, logo Radagast não hesitou em descarregar toda sua energia viajando, afinal, nada poderia dar errado. Até que no sexto dia eles chegaram a Valkaria.

No dia anterior, no qual pararam para Radagast voltar a si, já era possível ver no horizonte a grande mão da deusa estendida clemente aos céus, e agora eles chegavam aos portões da capital de Deheon, Valkaria.

Radagast já estava desgastado novamente, e dormiu em pé ali mesmo, não caindo no chão por pouco, Lyem o segurara e agora estava carregando-o nos ombros.

Agora era possível ver toda a estátua que jazia no centro da cidade. Uma estátua gigantesca da deusa da Humanidade, ajoelhada, braços estendidos ao céu e a face com uma expressão de tristeza e angústia misturadas. Muitos dizem que a própria deusa criara a estátua, para marcar o lugar onde a cidade deveria ser construída. E assim foi feito. Mas os aventureiros não tinham tempo para estudar história. Eles tinham que encontrar uma estalagem para passar o dia, e comprar mantimentos, pois ainda tinham mais uma semana de viagem até chegarem em Malpetrim.

A cidade como sempre estava transbordando pessoas. Era muito difícil se mover naquele aglomerado de gente, e os heróis tiveram que andar quase em fila. Vendedores anunciando seus maravilhosos produtos aos berros, cavaleiros montados em plena calçada, artistas disputando o espaço e a atenção dos viajantes com os mercadores. Uma bagunça dos infernos, e Achir estava adorando!

Achir Snycer gostava de aventuras. Viajar procurando tesouros, ajudar pessoas necessitadas, tudo isso era muito excitante. Mas a balburdia, a barulheira, a pressa, o empurra empurra, o clima da cidade, o fazia se sentir vivo, rejuvenescido. Ele morara anos na cidade grande, aprendera seu ofício alegrando as fascinantes noites da cidade grande. Ali ele se sentia em casa.

Todos estavam indo para a estalagem que se hospedaram da última vez que estiveram em Valkaria. Ela ficava próxima da Grande Arena Imperial, mas nada de gladiadores mais durante um bom tempo, pensou Katarina, ao avistar o grande anfiteatro que sediava as batalhas e competições.

Faltando alguns metros para chegar à estalagem, o grupo se separou. Lyem, com Radagast em seus ombros, foi para a Estalagem da Meia Noite, na qual o grupo já ficara algumas vezes, e Katrina, Katarina e Achir foram comprar os mantimentos. Ali estava ainda mais difícil andar pelas ruas, o comércio era maior, consequentemente havia mais pessoas passeando por ali, desde donas de casa até outros aventureiros passavam incessantemente nesta parte da cidade.

Achir conduzia a espremida fila que formara com as gêmeas às lojas que queriam, ele conhecia muito bem esta cidade, andara muito por essas ruas antes de se aventurar com Lyem. O trânsito de pessoas não ajudava em nada os quatro forasteiros, que de vez em quando tinham que esperar alguns minutos parados, até a multidão se dispersar um pouco, para daí sim continuarem as compras. De repente um grito agudo assustou o bardo!

Snycer virou-se rapidamente em direção as amigas. O grito era de Katrina, que abraçava os próprios braços, e lágrimas vertendo de seus lindos olhos que enfeitavam o desespero em sua face. O livro, roubaram o livro. Um pequeno alvoroço fez o bardo perceber que o assaltante estava fugindo no sentido contrário ao que eles iam. Katarina tentou desembainhar sua espada, mas seus braços estavam obstruídos pelo grande número de pessoas que estavam ali em sua volta.

- Achir, ajude-nos p...! - A clériga calou-se, quando virou na direção em que o bardo estava e não o achou. Sua irmã ficou nas pontas dos pés e esticou o pescoço olhando em volta, tentando achar os cabelos loiros e a bandana verde e branca do jovem Snycer. Mas não o vira novamente. Havia muitas cabeças ali em volta. Carecas, cabelos curtos, compridos, negros, loiros, ruivos, de todas as cores possíveis, mas os médios cabelos loiros do bardo não estavam à vista.

- Calma irmãzinha, Achir deve ter ido atrás do ladrão, vamos para a Meia Noite deixar estas compras e avisar Lyem. Venha aqui, não chore vai. - Disse abraçando a irmã junto ao peito firme e reluzente de sua armadura.

- Ele vai ficar uma fera comigo! - disse aos prantos a clériga. - Ele me pediu pra cuidar do livro e em menos de um mês eu já consigo perdê-lo!

- Lyem Aquai bravo com você? Ah, essa eu quero ver! - Respondeu à irmã, com ciúme nítido na voz.

- Olá senhorita Lúcia, a quanto tempo? Continuas encantadora como da última vez que estive aqui. - Lyem cumprimentara a dona da estalagem, que parecia uma grande morsa, vestida com um longo e velho vestido marrom desbotado. Dera-lhe um beijo, ainda com Radagast desacordado apoiado em suas costas, na mão incrivelmente grande da estalajadeira.

- Oh senhor Lyem! Que honra ter você aqui conosco novamente! - Disse ao mascarado, ruborizando as grandes bochechas e a papada.

- Você teria dois quartos disponíveis para mim, Lúcia?

- Claro meu querido, quantos você desejar! - O sorriso mal cabia em sua face redonda como a lua cheia.

- É muita gentileza, mas eu quero apenas dois mesmo, um para mim e meus companheiros, e outro para minhas companheiras.

- Oh! Que alegria, estão todos aqui também! - Disse entusiasmada. O grupo sempre fora muito simpático com ela, e já protegeu a estalagem uma vez, contra ladrões.

- Sim, sim. Os outros foram fazer compras, mais tarde devem estar aqui! E então, quais são os quartos?

- A claro, claro, desculpe-me pela desatenção, aqui estão as chaves. São os dois primeiros quartos aqui do primeiro andar. - Disse Lúcia, indicando a porta logo atrás dela, que dava acesso aos quartos.

- Que os deuses a abençoem, meu anjo! - Disse o meio-elfo, dando um beijo, sufocado pela máscara, em direção a mulher muito grande logo atrás do balcão.

“Aqui, deite-se e durma bem bonitinho!” Lyem jogara o corpo inconsciente de Radagast na pequena cama do quarto que acabara de alugar. “Hum, essa tal de magia é estranha mesmo, viu? Uma hora você ta lá, firme e forte, lançando tudo quanto é desgraça nos outros, fogo, gelo, o escambau! Mas depois fica ai, vulnerável que nem uma ema com a cara enfiada na terra! Nunca vou entender essas coisas!” E soltou um suspiro, que fez sua face esquentar dentro da máscara.

-Pelos deuses, o que aconteceu? - Perguntou assustado, se levantando em um pulo da cama e indo em direção as gêmeas que acabavam de chegar ao quarto, Katrina estava aos prantos, com os olhos inchados e vermelhos. - O que fizeram com vocês? Quem fez isso? EU VOU MATAR O DESGRAÇADO! - As palavras saiam rapidamente, Lyem nem respirava, estava muito preocupado para perder tempo com isso.

-Calma Lyem, não foi nada tão grave assim. - Interrompeu-o mentindo Katarina, a única que estava calma ali dentro do quarto, exceto Radagast, que se estava ouvindo aquela conversa não deu nenhum sinal de preocupação.

-Lyem, por favor, me desculpe! - Katrina, que havia segurado o choro para explicar o que estava acontecendo, desabou em lágrimas quando Lyem se virou para prestar atenção nela. - Eu... Deixei que roubassem o livro... Me desculpe! - E abraçou o meio-elfo, recostando a cabeça em seu peito, que ainda respirava rapidamente, por causa do susto de vê-la entrar chorando no quarto.

- Ah! Então é isso? Nossa meninas, vocês me assustaram!

- Vocês quem? Você que se desesperou quando a gente chegou, e eu tentei te explicar que não era nada de grave! - Protestou Katarina, muito brava.

- Tudo bem, me desculpe. Agora olhe aqui Katrina, minha querida. - Lyem puxou-a pelo ombro, para que ela pudesse olhar nos olhos dele. - Não ligue para isso! Achir foi atrás do ladrão, não foi? - A clériga fez que sim com a cabeça. - É, foi o que eu imaginei, por ele não estar com vocês. Mas então, fique calma, a culpa não é sua se existe gente no mundo que não tem coragem de arrumar um trabalho decente e encontra seu sustento no trabalho dos outros! Fique tranqüila, Achir vai voltar pra cá com o livro intacto, você vai ver! - E fez a madeira beijar a testa de sua parceira, que não via a hora de dar um beijo na verdadeira boca de Lyem Aquai.

Achir se desviava com graça das pessoas que lotavam as ruas. Muito concentrado, não perdia o ladrãozinho de vista e não se deixava esbarrar nos outros. “Humpf, amador!” pensou enquanto seguia o garoto, que se locomovia com muito estardalhaço e dificuldade, não se preocupando em desviar das pessoas, o que reduzia suas chances de escapar do bardo à zero, apesar de nem saber que estava sendo seguido. “Por que diabos esse pivete ta querendo roubar um livro?” pensou consigo mesmo, enquanto corria por sobre alguns barris e mesas que estavam nas calçadas.

Os dois agora corriam pelas ruas fora do comércio, chegavam aos bairros residenciais, onde as ruas eram muito mais calmas e estreitas. Snycer agora se esgueirava por entre portas e esquinas, para que o ladrão não percebesse que estava sendo seguido. O bardo queria saber quem contratara o ladrão para lhes roubar o livro, o livro de Dimictus Bennet! Achir não iria perdoar nunca o pobre coitado. O menino parou de correr, em uma ruela que se dividia em três caminhos, e seu perseguidor parou próximo, esgueirando por uma porta semi-aberta a alguns metros da encruzilhada. Com certeza o ladrãozinho estava esperando alguém.

Não demorou muito, Achir ouviu o trotar de alguns cavalos, que vinham sem pressa, trazendo presa a eles uma grande carruagem negra, com símbolos grafados na madeira das portas e no coche, serpentes enroladas em um pedaço de pergaminho. O cocheiro era um senhor muito idoso, raquítico, que com certeza não conseguiria acalmar os cavalos, caso estes saíssem em disparada. Os cavalos pararam, obedecendo à ordem que o cocheiro transmitiu, puxando as rédeas, fazendo com que a pequena janela da carruagem ficasse de frente para o garoto.

- Vejo que trouxe o que eu te pedi, garoto. Ótimo trabalho. - Disse uma voz muito grossa e imponente de dentro do compartimento luxuoso, estendendo uma mão, que vestia uma armadura da cor da carruagem, para pegar a encomenda, quando...

- Então foi você quem planejou roubar nosso livro! Seu cavalheiro imundo! - Gritou o bardo, aparecendo inesperadamente atrás do menino, e tomando o livro da mão dele olhando para dentro da carruagem, mas sem conseguir enxergar nada além da mão estendida. O garoto se assustara. Olhou para o rosto de Achir de baixo para cima, erguendo a cabeça, encostando o cocuruto na coxa do bardo, e aquela visão o fez tremer de cima a baixo. Aquele homem parecia um gigante, e o Sol escondido pela metade atrás da cabeça de Achir Snycer cegava o pequeno garoto e a face que se mostrava brilhante no ponto que se encostava com o sol aumentava a expressão de ódio no rosto firme e fino do bardo.

Com apenas um aceno do passageiro, o cocheiro brandiu as rédeas e fez os cavalos irem embora dali muito depressa. “Covarde! Maldito seja!” Ainda gritou o bardo, mas agora não era hora de segui-lo, não sozinho. Hoje ele avisaria seus parceiros sobre este cavalheiro do brasão da cobra rodeando um pergaminho, não havia de ser nada demais, apenas um colecionadorzinho folgado! Achir varreu estes pensamentos da mente e se ajoelhou para falar com o garoto.

- Acalme-se garoto, não vou te machucar! - o ladrãozinho agora tentava engolir o choro. - Sou apenas um bardo, não tenho nenhuma habilidade de combate com a qual se preocupar. Eu apenas vim buscar meu livro de volta. Eu não estou bravo com você, tome aqui, um tibar de prata! - Achir desamarrou sua carteira, as moedas tilintaram, retirou um pequeno disco de prata, e entregou para o garoto, que já esboçava um sorriso. - Qual é o seu nome guri?

- Lucas. - disse chupando o catarro com o nariz.

- Eu me chamo Achir Snycer. Quantos anos você tem, moleque?

-Quinze. – ainda chorava.

-Quinze anos e ainda esta deste tamanhinho? Não se preocupe. Você vai crescer de uma vez, tenho certeza. Foi um prazer te conhecer, Lucas. Adeus. - Achir esparramou os cabelos do menino enquanto se levantava, e virando as costas, foi embora, com o livro em baixo dos braços, e nem viu o pequeno aceno que Lucas lhe deu.

Não demorou muito, Achir já estava entrando no quarto indicado por Lúcia, onde estavam todos seus companheiros. Lyem tentando acalmar Katrina, que estava sentada abraçando os próprios joelhos em cima da cama. Katarina andava de um lado para o outro do quarto, impaciente com a irmã e com a demora do bardo. E Radagast dormia seu sono profundo, esparramado na cama de solteiro, sem fazer idéia do que estava acontecendo no recinto.

- Boa tarde a todos! Olha só o que o papai trouxe de volta! - Disse o bardo com um largo sorriso, entrando no quarto mostrando o velho livro de capa negra, fazendo todos, exceto o feiticeiro, olharem para ele. Katrina sorriu, ainda soluçando, mas as lágrimas não escorriam mais em sua linda face.

- Viu querida? Eu disse que ele traria o livro de volta!

- Caramba Achir! Que demora dos diabos foi essa? Eu já não agüentava mais vê-la chorar!

Lyem e Katarina desabaram a falar ao mesmo tempo, um tentando falar mais alto que o outro. O bardo então ergueu as mãos, uma com a palma aberta e a outra ainda segurando o livro.

- Calma gente calma. Também é ótimo ver vocês! Muito obrigado pelas calorosas boas vindas, acho que não mereço tanto. - Ironizou, fazendo uma reverência zombeteira para a paladina.

- E então rapaz, você espancou o safado que ousou roubar o livro de Katrina?

- Não, não, Lyem. Foi um garotinho que roubou o livro, a mando de um cara bem estranho. O coitadinho não teve culpa.

- Cara estranho? - Indagou Katarina, franzindo a testa. - Que cara estranho? Como ele era?

- Eu não vi a cara dele. O folgado estava dentro de uma grande carruagem negra. A única coisa que eu vi foi seu braço. Ele vestia uma armadura da mesma cor da carroça, mas brilhava mais!

- Então por que você o achou estranho?

- Pelos símbolos que estavam desenhados na carruagem! O brasão dele tinha uma grande serpente enrolada em um pedaço de pergaminho, também enrolado. Por um momento eu achei que ele era um seguidor de...

- Sszzaas! - Interromperam Lyem e Katarina ao mesmo tempo. - Mas os seguidores dele não saem por ai se revelando a todos. - Continuou o swashbuckler.

- Foi exatamente isso que eu pensei enquanto vinha pra cá. - Prosseguiu o bardo, jogando o livro na cama de Radagast, acertando em cheio o estômago do feiticeiro, que soltou um leve grunhido, se dobrando ao meio, mas sem acordar. - Eu estava pensando também, por que será que ele queria roubar este livro? Será que também carrega consigo alguma maldição?

- Acho que não, ninguém sabe da existência desse livro. Lembra que o “Pinicus” disse que foram os deuses que lhe deram o livro?! De certo era um colecionadorzinho mimado, que viu Katrina com o livro e quis adicioná-lo à sua biblioteca.

- É DIMICTUS, Lyem, DI-MI-QUI-TUS! - O rosto deformado de raiva do bardo ficou vermelho. - MAIS RESPEITO COM NOSSO NOVO CONTRATANTE, POR FAVOR! - Achir inspirou até encher por completo os pulmões, enquanto Lyem e as gêmeas davam risadinhas da reação do bardo. Por um segundo, Snycer podia jurar que até Radagast rira, então pegou o livro na cama e tacou novamente na barriga do feiticeiro, que soltou outro gemido, se virou para o outro lado, e continuou dormindo. - É isso passou pela minha cabeça também, mas aquele livro ali, ninguém mais além de nós encosta nele a partir de agora!

As gêmeas foram para o outro quarto, para arrumarem os novos mantimentos juntos com os que eles ainda tinham, e os homens ficaram ali, conversando, Achir começara a descrever de novo a carruagem, a pedido de Lyem. E não demorou muito para anoitecer. E Radagast finalmente acordou.

- UAHHHH...! - Espreguiçou-se - Ai! Minha barriga. Nossa nunca acordei com tanta fome assim! - Resmungou acariciando a boca do estômago, que tinha a grande mancha roxa da lesão escondida pelo robe. - Ah, olá rapazes, onde estamos? - O feiticeiro olhava em toda sua volta, estranhando o quarto.

- No Meia Noite. Lembra? Aquela estalagem de Valkaria. - Respondeu o líder, segurando a vontade de rir, olhando com o canto do olho para Achir, que também fazia força para se conter.

- Lembrei! - Disse muito animado. - Que bom que já estamos na cidade! Estamos indo mais rápido do que eu imaginei. Nossa gente – falou acariciando a barriga fazendo careta – vamos para alguma taberna, estou com a barriga doendo de tanta fome!

- Hahahahaha! - os rapazes explodiram em risadas. - Sim vamos, vamos, também estou com fome. Venha Achir, vamos lá chamar as meninas.

E naquela noite o grupo jantou em uma das tabernas próxima a estalagem. Achir embalara a noite com sua harpa, bailando por entre os clientes, se demorando à frente das belas raparigas, cantando a história de um bravo paladino, que se viu forçado a abandonar seus parceiros, mas que encontrou a esperança em um grupo de heróis desconhecidos, mas muito dedicados.

Na manhã seguinte, Azgher mal havia aparecido, e o grupo já estava acordado, na frente dos portões da cidade, prontos para seguir viagem. “Se tudo der certo, daqui sete dias chegaremos ao nosso destino”, disse Lyem, enquanto o frio mágico percorria em volta dele e de seus amigos. “Como o DI-MI-CTUS disse...” falou olhando diretamente para o bardo, que abrira um sorriso, “... a casa fica antes da cidade, então não demoraremos muito por lá!”

O gélido transporte estava pronto, “Ai, ai, acho que comi demais ontem, gente. Minha barriga ainda esta doendo.” resmungou o feiticeiro, fazendo todos caírem na gargalhada. Foram subindo. Katrina foi a última, sempre com a ajuda de Lyem, que lhe estendia a mão. Quando ela terminou de subir, e se posicionou ao lado da irmã, eles partiram. Tão rápido que nem viram que logo atrás deles ia uma grande carruagem negra.

2 comentários:

Deivide Elven disse...

Rapaz, nessa terceira parte não tenho do que reclamar.
Pararam as descrições e voltou a trama da história com algum diferencial, mostrando mais característica de alguns personagens. Isso é bom.
Fico devendo uma crítica completa para a quarta parte, é até legal imaginar uma carruagem perseguir um bloco de gelo.

Mi disse...

Olá veterano.. sempre veterano. Como sabes há tempos não passava por aqui... Demorei pra acompanhar até aqui e posso dizer que achei maravilhoso.
Como sempre convidativo né.... Depois que a gente começa a ler dá uma raiva d enão ter mais... Não é a realidade, vi que tem outro capítulo... Mas, preciso sair da net. Entretanto, precisava deixar registrado meu comentário. Adorei, sempre encantador.. E quanto aos galanteios, achei-os bem "seus".... hehe